
terça-feira, setembro 18, 2007
terça-feira, setembro 11, 2007
A porta da discórdia
A Jack aposentou-se e passou a narrar “causos” muito bons, de seus tempos de bancária. São crônicas escritas com bastante leveza e humor em seu excelente blog “Jack não tá Fazendo Nada” (link na coluna ao lado – vale a pena ler). A leitura me fez lembrar “causos” de minha vida profissional, como contador, advogado e professor.
Este é um causo de advocacia e só vou contar porque não chegou a correr processo. Evidentemente, conto o milagre mas não os santos. Os nomes não são verdadeiros.
Giovanni procurou-me. Queria separar-se de Anunciata. Não a suportava mais. Mal se falavam e ela fazia de tudo para irritá-lo.
“A separação será consensual?” perguntei.
“Sim. Ela passa procuração e o senhor será advogado dos dois.”
Pedi que ele passasse um recado para Anunciata me procurar. E ela veio.
“Doutor, eu concordo com a separação. Mas, só assino se ele devolver a porta do quarto!”
“Devolver a porta do quarto?”
“É! A porta do quarto que ele tirou e jogou fora.”
“Mas que história é essa? Você trancava a porta para ele não dormir no quarto?”
“Não! Ele já dormia na sala há muito tempo. Não precisava tirar a porta do quarto.”
Mandei vir o Giovanni.
“Giovanni, a Anunciata não concorda com a separação enquanto você não devolver a porta do quarto.”
“Danou-se! Dei a porta a um desses catadores de bagulhos que passam pela rua.”
E, assim, como Anunciata queria “a” porta, não servia nenhuma outra, não pode ser formalizada a separação consensual. Giovanni desapareceu no mundo. Parece-me que se mudou para alguma cidadezinha de Minas Gerais. Nunca mais tive notícias dele.
Passaram-se alguns anos. Um dia, Anunciata me procurou. Queria separar-se de Giovanni e eu deveria cuidar de tudo.
“E a porta?”
“Não quero mais saber daquela porta!”
Acontece que Anunciata tinha arrumado um namorado e queria casar-se, novamente, independentemente de seu quarto ter ou não ter porta.
Mandei procurar outro advogado. Ora!
Mas, o que nunca consegui entender é o que leva um marido, que não suporta mais a mulher, que se irrita com tudo o que ela faz ou fala, que dorme na sala, a arrancar e sumir com a porta do quarto dela.
JF
quinta-feira, setembro 06, 2007
Transporte aéreo de 5º mundo em país de 3º mundo
A Lu está até agora em Cumbica, aguardando embarque para Brasília. O Prenholato está de plantão, para pegá-la no aeroporto.
O vôo estava previsto para 8,50Hs, reserva feita na BRA e enviada à Lu pela editora.
Na ida para o aeroporto, já pegamos congestionamento na Via Dutra. Era de se esperar.
Chegamos ao aeroporto às 8,06hs. Para começar, não se consegue saber onde é o setor de EMBARQUE. Só existem indicações DESEMBARQUE. É uma coisa inacreditável. Para saber-se do EMBARQUE, é necessário que se vá perguntando, quase que de pessoa em pessoa!
A última indicação (ORAL) sobre o EMBARQUE é que o mesmo se faz no primeiro andar. Muito lógico, não é mesmo? Ao menos eu pensei nessa lógica para não soltar um palavrão! E o balcão da BRA era ao lado do balcão da GOL, no 1º andar. Perfeito!
Passando pela GOL, diversas filas. Mas, na BRA, não havia filas. VIVAAAA!!!!!!!
Na entrada do setor da BRA, havia duas meninas uniformizadas. Pensei: Devem ser porteiras! Mostramos o fax que a Lu recebeu, referente à reserva. Elas leram o fax inteirinho.
"Mas não é aqui! É na Ocean Air!" Já ia perguntando o que era isso, quando uma vaga lembrança me fez recordar que existe uma empresa aérea com esse nome. Indicaram-nos onde era o balcão da Ocean Air e lá fomos nós.
Quando nos afastamos, vi que as duas porteiras tinham, nos uniformes, emblemas da CVC. Ué! CVC não é uma empresa operadora de turismo? O que elas estavam fazendo lá na entrada das baias da BRA? Deixa prá lá.
Achamos o setor da Ocean Air. Bem pequenininho, com quatro pessoas atendendo. Nessa altura, já eram 8,20hs! A fila... Ahh, a fila! Enooooorrrme! Os funcionários, por sua vez, atendendo na maior lerdeza e... batendo papo entre si. Falei para a Lu:
"Lu, pela fila e pela vontade de trabalhar, esse vôo está atrasado."
Dali a pouco, um dos funcionários saiu de tras do balcão e veio correr a fila.
"Qual é o destino?"
"Brasília!"
"É nessa fila, mesmo!" Só havia uma fila. Não dava para escolher outra.
"Tem bagagem para despachar?"
"Não! Só a maleta de mão."
"Tem algum objeto metálico dentro?"
A Lu lembrou:
"Eu tenho um estilete."
Era o que faltava! Seriam capazes de achar que ela ia colocar o estilete no pescoço do piloto e dar uma ordem:
"Isto é um sequestro! Leve este avião diretamente para o aeroporto de... Bom... Pode ser Guarujá!"
Ela me entregou o estilete e eu perguntei ao "coisinho" se o avião estava no horário.
"Está!" E foi se afastando. Já passava ligeiramente das 8,30hs, mas já ouvíamos alguns comentários, na fila, de que o avião estava atrasado. Mas, aos poucos íamos nos aproximando do balcão. A velocidade devia ser, nessa altura, de quatro passageiros por hora. Mas, já estávamos
quase lá! Umas oito ou dez pessoas na frente.
O coisinho já estava, novamente, atrás do balcão. Dali a pouco, uma coisinha saiu de trás do balcão e veio percorrer a fila. Por uma imensa sorte, veio direto em nossa direção.
"Qual o destino?"
Dessa vez, a Lu foi mais esperta e não deixou a coisinha "se mandar".
"Brasília. Só que estou sem a passagem, só com este fax que me foi enviado por quem fez a reserva, em Brasília".
Coisinha leu o fax inteirinho. Até as indicações de onde o Prenholato deveria encontrar a Lu.
"Pode sair dessa fila e fique direto no balcão, que será a próxima a
ser atendida." Que felicidade!
No balcão, em frente ao atendente que nos daria prioridade, estavam duas pessoas. Que também tinham um papel indicando a reserva. Só que o atendente não conseguia localizar em sua relação e em nenhuma outra relação, no mundo inteiro! Acho que ele gastou, com telefonemas, mais que o valor das passagens! Nesse meio tempo, coisinha foi descobrindo
outras pessoas que também iam para Brasília e os foi tirando da fila. Dali a pouco, atrás de nós a fila para Brasília já estava quase chegando ao aeroporto de Congonhas!
"Pode me dar uma licença?"
Eram as pessoas que estavam por ali e que precisavam passar para o outro lado. O aeroporto, na realidade, a partir desse momento, dividiu-se em dois setores: a leste da fila para Brasília da Ocean Air e a oeste da fila para Brasília da Ocean Air. Mas, a fila não andava, pois o atendente não conseguia perceber onde foram parar as reservas das duas pessoas.
Enquanto isso, a fila original ia andando. Se tivéssemos permanecido nela, já estaríamos sendo atendidos. Lógico que isso provocou um início de tumulto, o que fez com que coisinha, que, nessa hora, já havia voltado para trás do balcão, pedisse ao outro atendente para dar prioridade ao pessoal que ia para Brasília.
Chegou nossa vez. Nossa, não! Da Lu. Eu estava ali apenas como acompanhante carregador de uma maleta pesando umas dez arrobas (mas, sem estiletes!)...
A Lu entregou a identidade e o fax ao coisinho nº 2. Ele leu atentamente.
"Mas, não é aqui. É na BRA!"
Eu já estava dando impulso no corpo para pular na garganta dele, quando coisinha interveio.
"Não! Pode fazer!".
Gentes! Será que está havendo roubo de passageiros dentro do aeroporto? A concorrência chegou a esse ponto?
Emitida a passagem, a informação:
"O voo sai às 10,50hs!" Óbvio! 8,50hs já tinha ficado para trás e nem havia tido avião, nesse horário.
A Lu e eu fomos tomar um café. Tirei as fichas e fomos ao balcão.
Gente, sem exagero! Acho que o balcão tinha uns 20 a 30 quilômetros de extensão! E duas menininhas atendendo. E Cumbica inteiro querendo tomar café! Já estava para pedir meu dinheiro de volta, quando, finalmente, fomos atendidos.
A Lu foi para a sala de embarque e eu fui embora. Quando passava pelo térreo, antes de sair da estação de DESEMBARQUE, vi um cubículo onde se deveria pagar o estacionamento.
Gente, se o acaso não tivesse colocado aquele cubículo bem na minha frente, eu iria até o estacionamento e teria de voltar para dentro da estação de DESEMBARQUE para pagar!
Quando cheguei ao estacionamento, vi que, realmente, havia um pequenino aviso de que se devia pagar lá dentro. Mas, só vi esse aviso, na volta. E por acaso! Isso é o que se chama de comunicação moderna.
Peguei o carro e dirigi-me à saida do estacionamento de veículos, junto ao Aeroporto de DESEMBARQUE de Cumbica. Gente, onde é a saída do estacionamento? Aquilo é enorme, existem inúmeras setas indicativas de direção às vagas. Mas, indicação de saída, que é bom, nada!
Como é triste morar num país terceiromundista!
Perto das onze horas, a Lu telefonou. O avião sairá ao meio dia!
Passava de uma da tarde, a Lu ligou mais uma vez!
Agora, a saída está prevista para as 15 horas. De qualquer forma, ela liga quando houver certeza. No momento, ela juntou-se a um grupo que vai protestar. Mas, protestar com quem? Com coisinha? Com coisinho? Como coisinho nº 2?
Já são 2 e meia da tarde e nada de notícias da Lu.
Será que a Ocean Air tem avião ou essa é mais uma picaretagem engendrada por políticos lotados em Brasília, para enganar o povo trouxa?
Abração
JF
terça-feira, setembro 04, 2007
Acomodando as bagagens no carro!
Gentes, vocês não sabem o que significa ir passar a noite de sábado para domingo no sítio, em Itatiba, a 80 Km de São Paulo. Digo isso em relação à colocação da bagagem no carro.
O drama começa na sexta feira.
“Então sairemos às 9 hs para chegarmos lá às 10 e meia”, eu já vou ponderando. “Assim, tenho bastante tempo para cuidar de minhas coisas, lá”. Para quem não sabe, cuidar de minhas coisas significa dar um trato nas orquídeas, pescar no lago, dar uma boa volta no pomar, pescar no lago, dar uma geral nos meus cactos, pescar no lago, coisinhas assim.
Ultimamente, ando meio preocupado com minhas plantas. Imaginem que saiu um caseiro e, sem que eu percebesse, ele resolveu tirar umas mudas de minhas plantas. A concepção de tirar mudas é engraçada. O sujeito chega no vaso e separa um quarto da planta. Um quarto!!! Que ele deixa para mim e leva os outros três quartos. Pode, uma coisa assim?
Mas, nós estamos falando da saída para o sítio. São os assuntos “pré”. Deixemos os assuntos “durante” e “pós” para outra hora.
Enfim, tentei marcar um horário de saída. A resposta é imediata e “na lata”:
“Nove horas? Rááááá! Nesse horário você ainda vai estar dormindo!”
Dá para agüentar? Ainda me acusa. E continua:
“Quero assistir à missa do meio-dia, assim não preciso ir à missa no domingo. Saindo da missa, vou ao supermercado fazer as compras para o almoço no sítio”.
“Não precisa comprar. Lá tem tudo!”
“É o que você pensa. Você não é dona-de-casa!”
Tem lógica. Não sou mesmo. Mas, como em casa a última palavra é sempre a minha, sentencio:
“Sim, senhora!”
Dia seguinte, ida à missa, volta do supermercado, estamos almoçando.
“A mala já está pronta?”, pergunto, embora já saiba a resposta.
“Ainda não. Mas, é muito rápido. É só pegar o básico e está pronto. E não esqueça de me lembrar de por as coisas da geladeira no isopor...”
“Não esqueça de por as coisas da geladeira no...”
“Agora, não! É um pouco antes de sairmos!”
É lógico que eu não ia deixar escapar a oportunidade de fazer uma brincadeirinha, né? Hehehehe!
“Eu só falei porque posso esquecer, na hora de lembrar você para que não se esqueça! E, como não quero esquecer, estou lembrando-a agora...”
Ela pareceu não ouvir. Pelo menos, não se dignou responder.
Terminado o almoço, com minha meia dúzia de coisinhas já na porta da cozinha, prontas para serem embarcadas, fico presenciando a arrumação da mala.
“Para que essas malhas? Está um calor de rachar”.
“Ouvi, na previsão do tempo, que tem uma frente fria estacionada no sul da Argentina.”
“Mas isso, se chegar até o Brasil, leva um mês”.
“Nunca se sabe! Pode estar estacionada, lá no sul da Argentina, há um mês, e só agora se deram conta”.
Não percebi a lógica! Mas, lógica feminina não se discute! E lá fico eu olhando a separação, sobre nossa cama, de malhas abertas e fechadas, malhas mais finas e malhas mais grossas, cachecóis (será esse, o plural de cachecol? Ajudem-me!), tudo, enfim, para prevenir qualquer variação de temperatura possível ou imaginária, em qualquer época do ano. Obviamente, tem também a sessão de roupas para todos os possíveis casos de chuvas, de garoa a maremoto. Com diversos guarda-chuvas. Só não coloca mais minhas galochas por não saber onde comprar nu novo par, depois que minha últimas galochas foram perdidas num aguaceiro daqueles que arrasta tudo, até ônibus, para dentro dos túneis do Anhangabaú. Falando nisso, será que ainda fabricam e vendem galochas?
A separação das roupas a serem levadas continua. Agora são separados cobertores e “edredons”. Meu espanto é imenso.
“Pra quê tudo isso? Tem tudo isso daí no sítio!”
“Tem, mas está tudo dentro do armário. Provavelmente vai estar tudo com cheiro de bolor e você vai ter ataque de bronquite! É melhor levarmos daqui.”
Dá para entender lógica feminina?
Vem a separação dos remédios. Felizmente, ninguém é hipocondríaco e somos absolutamente contrários à auto-medicação. A não ser, obviamente, nos tratamentos de casos corriqueiros. Assim, para os casos corriqueiros, a maleta de remédios leva todo o tipo de remédio possível e imaginário para as emergências. Assim: aspirina, anti-alérgico, Cremefenergan, anti-gripais mil, Bromil, Merthiolate, algodão, Band-Aid, todos os meus remédios de bronquite, alopurinol, xaropes disto e daquilo, Nebacetim, ataduras, talas (desconfio que ela leve alguns quilos de gesso em pó, mas ainda não tive coragem de olhar na maleta de remédios), Polaramine, Vick Vaporube, enfim, centenas de remédios para todo e qualquer tipo de doença, ferimento, emergência farmacêutica... ops, estava me esquecendo do Lavolho!. Acredito que ela carregue, ainda, remédios para a queda de cabelos, topadas com o dedão, amidalite, hepatite, traqueite, afrodite, meningite no pulmão, etc. Tem tudo! Sem falar que ela tem todos os possíveis remédios para todos os possíveis males do “filhinho”, que estará em seu próprio apartamento, há quase cem quilômetros de distância.
“Nunca se sabe a hora de sairmos correndo para atender um filho!” Aqui já é a lógica materna falando. A gente não entende, mas deve ter uma lógica nessa lógica. Enfim!
Não vou descrever a coleta das roupas dela. Mas, para mim, ela pega os básicos seguintes: pijamas de calças curtas, para o caso de estar muito quente, pijamas leves de calças comprida, para o caso de o tempo estar ameno (bonito!), pijamas bem grossos, para o caso de frio, camisas, camisetas, cuecas, meias, lenços, vários “jeans”, bermudas... Só não leva ceroulas porque me recuso a usar.
“Pra quê essas bermudas? Tem várias, lá no sítio!”
“Vieram para lavar.” Ahhhh! Tem lógica! Feminina, mas lógica.
Sapatos, chinelos, tênis, sandálias...
E o capítulo de sabonetes, creme dental, escovas de dentes novas, pois as dosítio já estão muito velhas e deformadas (???), desodorantes, shampoos...Deixa pra lá!
Nem vou descrever as coisas que saem da geladeira para dentro da enorme caixa de isopor! Nem as latarias e demais pacotes de alimentos. Isto viraria uma ode mais comprida que “Os Lusíadas”.
E a escolha das caixinhas de chá? O chá é necessário, porque, sendo uma coisa bem quente, faz bem para a minha bronquite. Na dúvida, vão os chás de hortelã, boldo, mate, cidreira, erva-doce, frutas vermelhas.. e amarelas, azuis, roxas, multicoloridas, etc. Tem lógica! Algum deverá me fazer bem, mesmo que eu passe a noite toda no banheiro, fazendo xixi, de tanto chá que eu precisei tomar.
Aí, vem o capítulo de ajeitar tudo dentro do carro.
Chamo o elevador para uma primeira viagem com as coisas. Obviamente, as coisas dela têm prioridade. Mesmo porque, minhas coisinhas cabem em qualquer espacinho eventualmente sobrante.
Lógico que, no sub-solo, não tem ninguém para me ajudar. Calço a porta do elevador com uma das malas e descarrego o resto, enquanto, em outro andar, alguém esmurra a porta do elevador que não sobe. Em diversas idas e vindas, levo tudo até o carro.
Abro todas as portas e o porta-malas. E vou ajeitando, com toda a imensa paciência com que se monta um quebra-cabeças chinês. A malona no porta malas... A mala média vai no banco traseiro... O resto do porta-malas é tomado pelos cobertores e “edredons”... A mala pequena vai no chão, atrás do banco do motorista... A mala de sapatos vai no chão, atrás do banco do passageiro... A maleta de remédios... Minha intenção é esquece-la, no chão da garagem... Mas, eu a coloco no espaço que sobrou, no banco traseiro. E subo para o apartamento para a segunda viagem de transporte das bagagens.
Quando abro a porta da cozinha e vejo o que ainda falta colocar no carro, me dá um ataque de desespero. Quase que chilique, mesmo! Mas, sou forte! E lá vou eu, para o elevador e a garagem, com a enorme caixa de isopor, mais uma caixa média de isopor, pois as coisas da geladeira não couberam em uma única caixa, mais milhares de sacolas de super-mercado carregadas com os mantimentos que não precisam ser conservados frios, mais pacotes com uma série de coisas que nem identifico. O mesmo drama para descarregar o elevador, enquanto um cretino, em outro andar, esmurra a porta do elevador que está demorando.
Chegando à garagem, as tralhas da “segunda carga” no chão esperando acomodação, fico lá, eu, imaginando como colocar tudo aquilo dentro do “Golzinho”. Tiro tudo que já estava dentro do carro e começo uma nova acomodação das coisas. Depois de trinta minutos de muita paciência e muito trabalho, tudo devidamente acomodado e ajustado, volto para o apartamento. Evidentemente, nessa altura já desisti de levar minhas “coisinhas”. Óbvio, não há lugar para mais nada!
No apartamento, ela está pensativa:
“Que será que estou esquecendo?”Minha resposta é rápida:
“Nada! Basta olhar em volta. Só sobraram os móveis vazios!” Ela ignora a ironia, mas ainda tem algumas sacolinhas de supermercado nas mãos.
“Onde você vai por isso? Não cabe mais nada.”
“Não se preocupe! Vão no chão, junto aos meus pés!” Me acalmo, afinal, lógica feminina tem, lá, a sua lógica.
Sete horas da noite, pouco mais de uma hora depois de sairmos do apartamento, chegamos ao sítio. Já está escuro e não dá para fazer mais nada, lá fora.
No sítio, as roupas estavam todas em ordem, sem qualquer cheiro de bolor. A caseira, diariamente, abre as janelas e deixa o quarto “ventilando”. Dessa forma, não tive nenhum ataque de bronquite.
Depois de desfeitas as malas, com todas as roupas e mantimentos em seus devidos lugares, aparece minha irmã:
“Amanhã, o almoço será lá em casa! Não precisam se preocupar com comida.” Olho para a Nina e rosno, ao lembrar de minhas coisas que ficaram em São Paulo por falta de espaço no carro.
Lanchamos. Aos curiosos de saberem que tipo de chá eu tomei... Tomei chá de erva-cidreira. Não a erva-cidreira da caixinha, mas erva-cidreira verdadeira, tradicional, verdinha, cheirosinha, que a caseira havia colhido, na horta, no final da tarde...
De tanto cansaço, fui dormir logo. Levantei quase meio-dia. Tomei um café rápido, dei uma olhada nas plantas, e subi para a casa do meu cunhado: batidinhas, petiscos, bate-papo até a hora do almoço. No almoço, vinho...
Terminado o almoço, fui tirar uma soneca, que não sou de ferro. Acordei apenas com tempo de molhar, rapidamente, minhas plantas, enquanto a Nina fazia as malas para voltarmos a São Paulo. Toda a roupa inútil precisa retornar, o frio argentino não veio. Assim como todas as coisas de geladeira e os mantimentos “não de geladeira” também voltam. Ou seja: voltou tudo para São Paulo! Sem uso!
“Você me vê um comprimido de Pepsamar? Estou com um gosto meio ácido na boca.”
“Esse não tem. Estava com a validade vencida e eu não trouxe. Segunda feira compro mais!”
Gentes, para terminar este relato, que não tem nada de exagero, ela pode confirmar tudinho, só duas perguntas:
1-Divertimento de mulher é fazer e desfazer malas e pacotes?
2-Em caso de uxoricídio, será que o juiz aceita essas condições como “atenuantes” e determina uma pena menor?
JF
domingo, agosto 26, 2007
Família Jacaré é "show"

Alô, amigos.
Esta é uma mensagem diferente. Não é uma historinha. É um convite para um "show".
O quê?
Show "Nós, os Jacarés". Aproximadamente uma hora e quinze minutos de muita alegria, música brasileira tradicional e "causos".
Quem?
O grupo Família Jácaré, claro! É um grupo de vinte parentes que compõem um... Um quê? Um sexteto: Vô Zeca Jacaré, Vó Nina Jacaroa, Lu Farias Jacaroa, Vagner "Rodapé" Jacaré, Juliana Jacarete e Vanessa Jacarete. Como pode? Venha ver o "show" para saber como é isso. Três gerações de uma mesma família cantando juntos.
A Direção artística?
Ahhh! Tato Fisher! Pianista, cantor, compositor, mágico, professor dessas artes todas, regente do grupo coral "Amídalas Cantantes", radialista, diretor teatral, diretor musical... Pensam que é só? Não! Participou do grupo inicial dos "Secos e Molhados".
Que mais?
A "abertura" do "show" será o quadro "O malandro e suas encrencas", com os cantores Frederico Santiago, Flavia Greco e Tânia Clemente. No teclado, Tato Fisher.
Quando?
No dia 29 de setembro (sábado), às 21 horas.
Onde?
No "Espaço Vila Teodoro", Rua Teodoro Sampaio, 1229, quase esquina da Av. Henrique Schauman, pegado ao Banco Itaú. Existem dois estacionamentos para deixar os automóveis, um em cada lado da rua, no quarteirão anterior. Não haverá problema, pois "os astros" me garantiram que, nesse dia, não choverá (se chover, eles terão que me devolver o dinheiro das velas que eu já acendi!!!...).
É isso, gente! Venham saber como pescar um tubarão, ou uma traira, no interior de Minas Gerais. Venham, também, saber por qual motivo "trabaiá é pecado!"... Ou, ainda, "u qui é qui minha muié teim, que as ôtra num teim!". E... "pru que qui a muié mi deixou"? Tudo isso será contado e cantado no "show".
Aguardamos vocês.
JF
(conhecido, nos meios musicais, por Vô Zeca Jacaré! EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE)
quarta-feira, agosto 22, 2007
O pintor e o escultor fazem suas pinturas e esculturas para expô-las a outras pessoas. O poeta escreve poemas para serem lidos por outras pessoas. O compositor compõe músicas para serem ouvidas por outras pessoas.
Beethoven, o gênio que compõs suas principais sinfonias já em estado de surdês, também media sua obra pela recepção que o público dava à mesma. Seus biógrafos contam que, quando da estréia de sua monumental nona sinfonia, ao terminar a apresentação, Beethoven, que fizera a regência da orquestra executante, começou a recolher suas partituras sem ouvir, atrás de si, o público que o aplaudia entusiasticamente. Foi preciso que os músicos da orquestra, também totalmente entusiamados com aquela que, até hoje, é considerada como uma das principais obras primas da humanidade, em todos os tempos, o virassem para que ele visse a reação do público, em pé, aplaudindo-o. E foi assim que o grande compositor, totalmente emocionado, compreendeu a grandeza do que acabara de apresentar.
Evidentemente, o Família Jacaré não é composto de gênios como Beethoven, Michelangelo, Shakespeare, Camões, Caruso, e outros tantos artistas geniais. Mas, fazemos a nossa "artezinha". Isso fazemos! E, como tal, gostamos de apresentá-la às pessoas. E, quando percebemos que estamos agradando, isso nos dá prazer e serve de incentivo para melhorarmos sempre.
Ontem, às duas da tarde (terça feira), fizemos nossa apresentação em um programa na Radio Pax, emissora que transmite via Internet e é mantida por uma entidade de cunho esotérico, aqui em São Paulo.
A primeira coisa que chama a atenção, no nosso grupo musical, é o fato de sermos seis pessoas de três gerações diferentes, de uma mesma família. A noção "família", para o brasileiro, é uma coisa muito forte, admirada, e que chama muito a atenção. Outra coisa que chama a atenção sobre o grupo é o fato de serem músicas brasileiras antigas, alegres, daquelas que remetem as pessoas a boas lembranças de seus passados. Finalmente, chama a atenção o fato de três gerações estarem se apresentando de forma totalmente descontraída, igual, sem preocupações de vedetismo de uns ou outros, cantando com muito prazer. Divertindo-se, mesmo. É uma alegre festa familiar.
Para a apresentação na Rádio Pax, fôramos convidados pelo Tato Fischer, para sermos entrevistados em seu programa semanal e para cantarmos três músicas de nosso repertório. A entrevista acabou se estendendo e foram apresentadas umas dez músicas. Com isso, a apresentação se estendeu por por uma hora e quinze minutos, tendo, inclusive, sob olhares aprovadores da sua apresentadora, avançado em quinze minutos do tempo do programa seguinte.
Coincidentemente (ou não!), o locutor Tato Fischer, que foi integrante do grupo musical "Secos e Molhados", um amigo muito querido, além de cantor, compositor, instrumentista, mágico, professor de canto, diretor musical, diretor teatral, e outras qualidades, é o nosso Diretor Artístico e fã entusiasmado.
O programa começou muito bem, com nossa música de abertura "Jacaré", do compositor gaucho Paixão Cortes. Em seguida, relatei a composição dos "vinte parentescos" que unem os componentes do grupo. O Tato, brincando, desafiou os ouvintes a advinharem qual era o número exato de componentes do grupo. Não demorou muito para chegar um e-mail com a primeira resposta: OITO! Mais que a resposta errada, o que chamou a atenção foi o nome do remetente, Antonio Prenholato, nosso amigo orquidófilo de Brasília. Ao percebermos que os amigos estavam atentos ao programa, o "astral" do grupo, que já estava alto, subiu para mil!
Certa vez, o Prenholato postou, na lista NESO, uma crônica de sua autoria com uma história de uma pescaria. Essa história, de um humor muito fino, nós a adaptamos e a incorporamos ao repertório do Família Jacaré, sob a forma de um "causo" representado por mim e pela neta Vanessa (o "cumpadi Antonho"). Não estava prevista a sua apresentação na Rádio, mesmo porque, como é "representação", muito de sua graça estaria perdida. Porém, até hoje o Prenholato só ouve falar da história e ainda não a assistiu. Não podíamos deixar passar a oportunidade. Assim, na hora, de improviso, apresentamos uma versão "para rádio", especialmente dedicada ao ouvinte Antonio Prenholato! hehehehehe!
E, dessa forma, improvisado e informal, o programa foi se desenrolando.
Para uma das músicas, bem ao estilo das antigas emissoras de rádio do interior - "Fulano dedica a música tal para ciclana" - nós apresentamos o "Rede de Varanda", de João Bá e Gereba, e a dedicamos à Maria Rita, nossa querida amiga do Rio de Janeiro. É que a música retrata um cenário do vale do Rio Paraiba fluminense, na região em que a Rita tem sua casa de campo. O detalhe da dedicatória foi notado pela querida amiga Ariane, também carioca e que "assistiu" o programa, e comentado por ela na lista NESO. Pena que a Rita, no momento da apresentação, estivesse "brigando" com o técnico do computador e tivesse ficado impossibilitada de ouvir. Rita, ainda apresentaremos essa música a você, "ao vivo".
Outro momento muito significativo para nós foi quando recebemos da técnica do programa a comunicação de que chegara um e-mail do nosso amigo Júlio Betti, daqui de São Paulo, inclusive tendo anexado uma foto de uma apresentação nossa em sua casa.
O Júlio, grande violonista, juntamente com sua esposa Doris e a filha Juliana, ambas cantoras com vozes muito bonitas, uma família muito linda, costumava promover em sua casa saraus musicais. Esses saraus, interrompidos por motivo de doença em família, deverão ser retomados em breve. Foi frequentando essas reuniões na casa do Júlio que nos sentimos incentivados a dar prosseguimento ao grupo musical Coral do Jacaré, surgido um ano antes e praticamente paralizado, após duas únicas apresentações, de duas músicas, numa sala de música via-Internet.
Assim podemos dizer que o Júlio, mais a Doris e a Juliana, são padrinhos do Família Jacaré, nosso nome atual. E foi gratificante saber que ele estava atento à nossa audição.
Aliás, por falar em padrinhos do grupo, nosso primeiro padrinho é nosso amigo de Brasília, o Bernardino Damião. Durante todo ano em que estivemos "em recesso", de nossa segunda audição, na Internet, ouvida pelo Damião, até o ressurgimento, na casa do Júlio, ele nos ficou cobrando "a volta" e a gravação do CD. Grande Damião! Obrigado, amigo! Você é um dos responsáveis, aliás o primeiro responsável incentivador, do grupo.
Outro momento importante e de emoção, durante o programa, foi a chegada do e-mail da Dulce Valverde, compositora com algumas letras musicadas pela Lu. A Dulce estava acompanhando o programa nos Estados Unidos e fez questão de nos felicitar durante a audição.
Sabemos que outros e-mails chegaram à produção do programa, durante nossa apresentação. Mas, somente estes três nos foram repassados. De qualquer forma, agradecemos a todos os que se manifestaram. E, logicamente, a todos os que ouviram, mesmo não tendo se manifestado. Sabemos que muitos amigos não puderam ouvir por estarem sem disponibilidade de equipamento, no momento da audição, ou por qualquer outro motivo. Mas, só de sabermos que, ouvindo ou só em pensamento, eles estavam conosco, para nós é uma satisfação muito grande.
E, assim, tivemos mais uma apresentação. Mais uma etapa! Outras já vem vindo por aí, já com várias audições programadas até o final do ano, nesse caminho que adotamos para levar alegria às pessoas, para ficarmos satisfeitos conosco mesmos, e para, dentro de nossas pequenas possibilidades, mantermos viva a memória de antigas músicas que fazem parte da cultura brasileira.
É assim que compartilhamos com vocês nossas cantorias, nossa forma, ainda que pequenina, de fazer arte. E também compartilhamos nossa amizade e amor.
Abração
JF
ou Zeca Jacaré
dependendo da lista (hehehehehehehe)
Mais notícias, diretamente no Blog:
www.blogdojf.blogspot.com
Postado, no dia 22/08/07, também nas listas NESO e TatoFischer
quinta-feira, agosto 09, 2007
Romance de uma arara e de um ororo
Qual é o masculino de arara? Vocês sabem, aquele bicho voador com um empenamento todo colorido. Acho que dizer "ororo" é um tanto forçado, né mesmo? Bem, vamos supor que seja "araro". Ao menos é como definíamos o Jô.
Esta história começa ali pelo final dos anos setenta, início dos oitenta.
A casa de meus pais, no Itaim-Bibi, aqui em São Paulo, estava no meio de um enorme terreno de 1.200 metros quadrados. Meus pais, vocês estão já cansados, de saber, eram do interior. Minha mãe, sãocarlense, a terra do Zé Roberto. Meu pai era de Dourado, bem no centro do estado, mais precisamente do distrito de Itaju. - Um dia ele quis mostrar aos filhos sua cidade. Foi tanta gozação, tanta risada, que não voltou mais lá! Mas, isto é outra história. Voltemos a falar de araras.
Naquela época, o Itaim-Bibi ainda estava começando a crescer verticalmente. Ainda existiam casas com enormes quintais. O nosso, particularmente, era um enorme pomar. Tinha três jabuticabeiras, bananeiras, uma nespereira, mamoeiro. E outras coisas. Tinha até um famoso chuchuzeiro que foi "morrido" misteriosamente, como eu (me parece!) já contei aqui.
Com essa semi-floresta, era natural a vinda ao quintal de muitos pássaros.
Um dia, apareceu por lá uma enorme arara vermelha. Provavelmente fugitiva de alguma gaiola, a coitada estava em mísero estado, demonstrando muita falta de cuidados dos donos com o animal.
Ora, dizem por aí que o que cai na rede é peixe. Óbvio que não saimos pela rua perguntando quem perdera uma arara. Embora, se aparecesse alguém que provasse que era o dono do animal, certamente o levaria embora. Mas, apesar de toda a gritaria que a arara estava acostumada a fazer, ninguém apareceu. Sorte nossa! E da arara!
Bem tratada, logo ela recuperava a beleza de suas penas e a sua natural alegria. Solta no quintal, com água, comida e uma boa "cama", ia de árvore em árvore e por lá foi ficando. Considerou-se em uma nova casa.
Um dia, passados vários anos, a casa foi vendida para que fosse levantado, no local, um edifício de 17 andares. Soubemos, depois, que as três jabuticabeiras foram tiradas com o máximo cuidado e transportadas para o sítio de um dos donos da construtora, onde elas devem estar vivendo muito bem, até hoje. Quanto à arara, mudou-se lá para Itatiba, no sítio de meus pais, onde se encontra até hoje.
Existem muitas histórias engraçadas da arara, mas que deixo para contar em outra ocasião para não me alongar. Afinal, o que quero, mesmo, é contar sobre o Jô.
Entretanto, antes de falar nele, ainda devo dizer que, de vez em quando, a arara botava ovos e cismava de chocá-los. Fazia um ninho embaixo de um armário da cozinha e lá ficava. Lógico que, os ovos não sendo "galados", não nasciam ararinhas ou ararinhos. De vez em quando, minha mãe, com pena do instinto maternal da arara, colocava no meio dos ovos dela algum ovo de garnizé. Estes eclodiam. E a arara os tratava como se seus próprios filhos fossem. O pior é que esses garnizés acabavam por adquirir costumes ararísticos. Quase esqueciam que, de verdade, eram galináceos. Só não aprendiam a falar.
Foi então que meu pai resolveu atuar na criação e transformar-se em agente da natureza.
Diz a Bíblia que Deus, depois de criar o homem, disse: "Não é bom que o homem fique sozinho!". E criou a mulher. E daí, vocês sabem no que deu: namoro, casamento, filhos.
E meu pai disse: "Não é bom que a arara fique sozinha!"
Pergunta daqui, pergunta dali, conseguiu comprar um araro (vocês têm certeza que não é ororo, não é mesmo?), ao qual foi dado o carinhoso nome de Jô.
O Jô vivia empoleirado pelas árvores. Descia para comer e dormir em seu canto. Incrível era a sua capacidade de imitar as vozes das pessoas.
Meus pais, já com a idade avançando, logicamente foram incorporando hábitos próprios da velhice, tais como a ranzinzice e a teimosia. E, às vezes, discutiam entre si, cada um querendo ter mais razão que o outro. Isso, evidentemente, era um bom motivo de "gozação" de filhos e netos, pois, dalí a pouco, lá estavam os dois de mãos dadas assistindo a algum programa de televisão.
Certa manhã, alí pelas seis da madrugada, depois de já ter sido acordada às três pelos galos que vinham cantar sob a janela de nosso quarto, a Nina acorda com o barulho de uma discussão meio inteligível de meus pais.
" Amélio! Vo..." E não dava para entender o que minha mãe falava. Mas, a resposta era imediata:
"Amélia! Vo..." E também não dava para entender o que meu pai respondia.
"Começaram cedo..." pensou ela bem baixinho, para não me acordar.
Naturalmente, essas formas de acordar no meio da noite fazem com que os instintos naturais se manifestem e as pessoas sintam vontade de ir ao banheiro. A Nina, moça normal e saudável, logicamente, levantou-se para ir... "lá". Ao passar em frente ao quarto de meus pais, percebeu que os dois dormiam a sono solto, apesar de, fora da casa, a discussão continuar correndo solta. Isso merecia uma investigação cuidadosa. Pois não é que o Jô, no alto de uma árvore, ao lado da casa, era o protagonista único da discussão? O bandidinho sabia imitar a forma de falar de meu pai e de minha mãe. E lá ficava ele, no alvorecer do dia, se divertindo na representação teatral de uma "briga" dos Amélios.
Mas, voltemos ao principal, que a história já está longa: o namoro, o casamento, os ararinhos e as ararinhas tão ansiosamente aguardados.
Bem, o desfecho foi outro, bem diferente do esperado.
Nada de namoro! Nem chegavam perto um do outro.
Depois de muito pesquisar e perguntar, soubemos da verdade: as araras, quando formam um casal, ficam fiéis entre si até à morte dos dois. Mesmo que um dos dois venha a morer, o outro nunca mais buscará um companheiro. Não é bonitinho? Que coisa mais lindinha! Podia ser isso! Vai que um dos dois já fora casado, anteriormente? Não seria mesmo possível a união entre eles. Teriam, talvez, os dois sido casados em tempos anteriores? Afinal, os dois eram adultos quando chegaram ao nosso convívio. Não dava para saber. A única coisa que se sabia é que nenhum dos dois procurava aproximar-se do outro. Ignonoravam-se, mesmo.
Mas, as dúvidas sempre ficam. Pergunta daqui, pergunta dali, e, um dia, nova explicação. Eram araras de espécies diferentes. Realmente, a arara era vermelha e o Jô era azul. Mas eles têm preconceito disso? Bem, era como se se quisesse casar um cão pastor alemão com uma gata siamesa. Ou quase isso. Enfim... Vocês entenderam. Era impossível o casamento. Especies diferentes!
Agora já tínhamos duas boas razões para crer na impossibilidade de romance.
O Jô, infelizmente, depois de anos e anos de vida boêmia pelas árvores do sítio, inclusive praticando um esporte radical que ele adorava: ficar sob a chuva, tanto fazia se fosse um simples chuvisco ou uma tremenda tempestade de verão, adoeceu e morreu. Disse a veterinária que foi de pneumonia, em razão do excesso de chuvas que ele tomava. A arara, como já disse, está por lá, passeando, dando suas voltinhas nas árvores, ensaiando vôos. É uma verdadeira viuva alegre.
Mas, para terminar de falar sobre o Jô. Um dia, tivemos a terceira razão pela qual nunca daria certo o casamento entre eles. O Jô botou um ovo! O Jô não era Jô. Era Já!
Abração
JF
A propósito de Galos e Galinhas
Se existe um bicho burro, mas burro mesmo, o nome dele é galinha!
Tenho trauma de galinhas. Falo sério!
Talvez isso venha da infância. Imaginem ser filho de pais vindos do interior do estado, numa época que São Paulo, apesar de grande, era uma cidade... vamos dizer assim: um tanto provinciana. Isso lá pelos idos da década de 40. Não no início, lógico, que eu ainda não havia nascido, mas já para os anos 40 finais. É óbvio que no quintal de minha casa tinha um galinheiro. Aliás, naquela época, a maioria das casas tinha um galinheiro no fundo do quintal. Não se compravam ovos no supermercado. Nem existiam supermercados, ainda era a época dos "armazéns de secos e molhados". Os ovos vinham do fundo do quintal. E, de vez em quando, meu pai ia ao galinheiro, pegava uma galinha, torcia o pescoço dela e a deixava pendurada de cabeça para baixo, terminando de estrebuchar.
Nem sei o que significa estrebuchar, mas era como deixavam a galinha. Depois que terminava o estrebuchamento, davam um banho de água fervendo na galinha e retiravam suas penas (que eram guardadas para encher travesseiros). Depois disso, a galinha acabava aparecendo na mesa, já pronta para ir para o prato.
Hoje em dia é tudo mais simples. Vai-se ao supermercado e compra-se a galinha, que agora é chamada de frango, já prontinha para a panela. Não imagino como eu faria para estrangular uma galinha, pô-la para estrebuchar, dar-lhe banho de água fervendo e, ainda por cima, arrancar-lhe todas as penas.
Um dia, isso eu não lembro, apenas conto porque é história que corre na família, eu com uns três anos de idade, aprontei alguma coisa e minha mãe ameaçou de me fazer dormir com as galinhas.
Não sei se foi o complexo de culpa ou o quê. O fato é que, lá pelas tantas, deram por falta de mim.
"Onde foi parar o Zé?"
Quando foram olhar no quintal, lá estava eu no galinheiro, me preparando para dormir com as galinhas.
O fato é que, com tudo isso, agora, galinha, ao menos para mim, é só aquela vinda do supermercado. Digo isso, mas, lá no fundo, bem que tenho a idéia, de quando for morar no sítio, reativar o galinheiro. Com poucas galinhas, lógico, mas, isso é outra história.
Quando meus pais compraram o sítio, em 1970, as galinhas, lá, eram mais comuns que tico-tico. Como elas não ficavam presas, tinha galinha por tudo quanto era lado. Galinhas comuns, galinhas caipiras, garnizés. Chego quase a imaginar que era a totalidade da fauna itatibense, de tanto que tinha galinha. E elas botavam ovos prá tudo quanto era lado, para alegria geral dos gambás e outros animais, aí incluidos, evidentemente, os empregados do sítio. E era um tal de galinha aparecer com uma ninhada de dez, doze e até mais pintos. Era um verdadeiro escândalo! O drama é que minha mãe, depois de ter passado dezenas de anos com apenas um pequeno galinheiro no quintal, agora se via como a protetora universal das galinhas soltas e liberadas. Dizia que era ótimo para acabar com bichinhos. Até podia ser, pois em qualquer lado do sítio que a gente ia tinha multidões de galinhas ciscando pelo chão.
E os galos? De monte! Começavam a cantoria às três da madrugada. Debaixo da janela do nosso quarto. É por isso, inclusive, que a Nina odeia galinhas e galos (ainda não contei para ela que eu pretendo reativar o galinheiro, hehehehehe!, se bem que em quantidades educadas.).
Uma ocasião, levamos o Rackan ao sítio.
Antes de continuar, deixem-me falar quem era o Rackan.
Rackan era um cachorro pastor alemão. Ganhei de uma aluna. O filhote tinha sido desmamado aos vinte dias e trazido de uma fazenda de Bauru para São Paulo. Chegou mirrado, carregado de carrapatos e vermes. A Nina trabalhou muito bem para que ele pudesse sobreviver e se transformar num lindo pastor alemão "capa preta". A intenção era de levá-lo para o sítio. Mas, ele foi se criando no apartamento e nós não quisemos mais ficar longe dele. Dessa forma, Rackan foi um lindo cão pastor alemão "capa preta" de apartamento.
Agora, vocês imaginem um "partorzão" entrar num carro, saido de um apartamento na 9 de Julho, aqui em São Paulo, e descer em um sítio em Itatiba. Ele nem imaginava que pudesse existir tanto espaço!
Pois foi o Rackan descer do automovel e o que aparece bem na frente dele? Um galo! Lógico que ele não sabia que aquilo era um galo. Nem sabia que existiam galos. O máximo que ele conhecia, e corria atrás, eram alguns pardais que cismavam de aterrizar no terraço do apartamento. Um "pardal" daquele tamanho? Não! Isso tinha que ser investigado. E lá foi o Rackan, em desabalada carreira, atráz do "pardalzão" colorido. Obviamente, a curiosidade, se é que podemos chamar assim, era muito mais forte que nossos chamamentos imperiosos para que voltasse. Alguns minutos depois, o Rackan apareceu com o "pardalzão" pendurado, preso em sua boca pelo pescoço, já prontinho para receber o banho de água fervente e passar pela rotina do "despenamento".
Nem preciso dizer que minha mãe ficou uma "fera". hehehehehehehe! Mas, perdoou logo. A paixão dela por animais era imensa. Inclusive por cães pastores alemães curiosos.
Naquela época, em que os caminhos do sítio não tinham todo o calçamento que têm hoje, chovia demais (até o tempo mudou e já não é mais o mesmo!). Ao redor da casa ficava um tremendo lamaçal. Quando vinha o sol, a lama secava e formava enormes torrões de terra.
Num dos lados da casa, havia um barranco com diversas jabuticabeiras e algumas outras árvores que, naquela época, ainda eram relativamente baixas. Pois era nessas jabuticabeiras e árvores que as hordas de galinhas se empoleiravam, no final da tarde, protegidas pela ramagem espessa, para passar a noite. E era nessa hora que entrava em ação o Super X, o "terror das galinhas".
Super X, que a Luciana e o Adriano juram que era eu, garanto que não me lembro ao certo, chegava sorrateiramente, escolhia um grande torrão de terra no chão, e o atirava, com muita força, bem no meio da copa de uma das árvores. O torrão batia na árvore e como quê explodia, espalhando aquele monte de terra por entre as galinhas.
Gentas e gentos. Era engraçadíssimo ver aquele bando de galinhas assustadas, apavoradas e cacarejantes sairem esvoaçando por tudo que era lado da árvore. A Lu, o Adriano e eu caíamos na gargalhada... Eu não! O Super X, que eu seria incapaz de fazer uma maldade dessas.
A reação imediata à barulheira das galinhas era o aparecimento, em cena, de Dona Amélia.
"Que foi que aconteceu?"
"Sei não! Isso, na certa, é gambá querendo pegar as galinhas na árvore.
Realmente, galinha é um bicho muito burro! Mas eu ainda vou criar umas galinhas lá no sítio (não contem para a Nina que ela é capaz de querer cortar meu barato). Só que ficarão trancafiadas no galinheiro. E, se começarem a gritar e a voar esbaforidas, que ninguém me venha com a história de gambá. Vou querer saber, direitinho, quem é que está atirando bolotões de terra nas galinhas!
JF
quinta-feira, agosto 02, 2007
Cia. Estradas de Ferro Glória do JF
Depois de muito meditar, resolvi partilhar com vocês a possibilidade de participarem de um empreendimento de um alto grau de lucratividade. Pelos meus cálculos, de 40 a 50% de rendimentos AO MÊS! Não é venda de avestruz! Trata-se de um negócio com garantias de lucros, para ninguém botar defeito. É por o dinheiro agora e aguardar o início das atividades da empresa, que já lancei. Estou recebendo as importâncias que serão todas contabilizadas como "adiantamento para aquisição de Ações Preferenciais Nominativas" da Cia. Estradas de Ferro Glória do JF. O JF no nome da empresa se justifica: EU tive a idéia e EU serei o Presidente da Companhia. Naturalmente, deverá haver um pouco de paciência relativamente ao retorno do capital investido, sob a forma de dividendos mensais. Por enquanto, estou na fase de desenvolvimento do projeto e lançamento da Cia. E venda das ações (com o correspondente recebimento do dinheiro dos investidores). Depois disso, quando ocorrerem as condições favoráveis, será construída a ferrovia. Com o início das operações, haverá muito transporte de cargas e pessoas, o que, em "investimentês", significa: $$$$$$$$$$. Ou seja: lucros certos.
Vocês sabem que, no início, no planeta havia um único continente: Gondwana, ou algo assim. Com o passar dos tempos, os continentes se separaram e os mares foram invadindo os espaços abertos entre eles, formando os oceanos. A América do Sul destacou-se da costa africana e foi se afastando cada vez mais, até chegar à enorme distância que, hoje, separa esses continentes. Uma parte dos Oeceoclades maculata (*) ficou do lado de lá, já que eles não sabem nadar. Isso os impede de voltar.
Entretanto, fidedignas fontes, me garantiram que esse movimento de "afastamento" dos continentes não parou. NÃÃÃÕOOO!!! A América do Sul continua nesse processo de afastamento da África. A cada ano, alguns centímetros são acrescidos a essa distância que separa os continentes.
Entretanto, sabemos que nosso planeta é uma bola (ou, melhor dizendo, uma pêra, pois é mais achatado no pólo norte e mais pontudo no pólo sul). Se fosse simplesmente uma placa, como pensavam os antigos, haveria um momento em que a América chegaria à beira do precipício e cairia. Mas, como é redondo (ou pêrico), o que vai acontecer? Num determinado momento, lá no futuro, depois de cruzar o Oceano Pacífico, a América irá bater do outro lado de Gondwana. Ou seja: a América do Norte irá trombar com o Japão, Filipinas, China. A América do Sul irá bater na Austrália. Certo???? Certíssimo!!!!! Como 2 e 2 são 22!
E foi aí que me chegou a brilhante idéia. Vocês já imaginaram uma estrada de ferro ligando Rio de Janeiro a Sidney? Não???? Pois eu já imaginei! Sensacional!!! E foi assim que pensei na construção dessa estrada de ferro intercontinental. O custo não será muito alto, já que, nessa ocasião, o mar terá desaparecido, encurtando a distância em muitos milhares de quilômetros. E resolvi colocar todos vocês como meus sócios nesse empreendimento maravilhoso, de grande envergadura, e, sobretudo, de lucro certo! Tão logo os continentes se encontrem, começaremos as obras da construção. Mas, as ações preferenciais nominativas, sem direito de voto mas com garantia de recebimento de dividendos, já estão sendo lançadas, para que possamos pagar as despesas com registros, patentes, projetos, etc.
Assim, estou lançando no mercado lotes de ações da nova empresa:
1.000.000 de ações PN, a R$1,00 por ação, no lançamento, com deságio, estão sendo ofertadas por RR$100.000,00. Um grande negócio. Ninguém pode perder! Deságio de 90%! Quando a estrada de ferro entrar em funcionamento, valerão, nas Bolsas de Valores do mundo todo, pelo menosR$2.000.000,00;
É barato! Mas, vocês estão descapitalizados? Não tem problema. A satisfação dos sócios está em primeiro lugar. Não esqueçam que esta é, autenticamente, uma ação entre amigos:
1.000.000 de ações PN, a R$1,00, cada uma, por R$ 10.000,00. Não existe negócio com melhores perspectivas. Pensem bem!
Não dá? Ainda está pesado? Tá legal! Tá legal! Faço o mesmo lote de ações PN por R$ 1.000,00.
Mesmo assim, vocês ainda não têm disponibilidades? Que tal R$ 100,00? R$ 10,00?
Cês são duros, mesmo, hein? Tá bom! R$ 1,00 pelo lote de 1.000.000 de ações PN da Cia. Estradas de Ferro Glória do JF.
Nããããããooooo??????? Por isso que odeio pobre! Ceis nunca têm dinheiro!
Azar de vocês. Vou lucrar sozinho
JF
Em tempo: gentes, eu aceito o pagamento em vale transporte, vale-refeição, vale do fome-zero...
(*) Oeceoclades maculata – espécie de orquídea terrestre encontrada no continente americano, desde a Argentina até o sul dos Estados Unidos, e, também, na África.
Publicado, originalmente, na lista NESO de discussão (Yahoo), 01/12/2005.
sexta-feira, julho 13, 2007
Família Jacaré
O que é a Família Jacaré? Somos nós! Uma tradição familiar de cantar juntos. Os mais novos: Nina e eu, Zeca. A geração do meio: Luciana (Lu) e o marido Vagner (Rodapé). E, a geração mais velha: nossas netas Juliana e Vanessa. Ou será que essa questão de mais ou menos velho é ao contrário? Bem, detalhes sem muita importância.
No início, nosso nome era Coral do Jacaré
Esse Jacaré surgiu do nada, sem que soubéssemos por quê. Se alguém descobrir, por favor, nos conte. E coral? Coral presume bastante gente, e nosso grupo conta com vinte parentes:
Um avô e uma avó e duas netas. Dois pais e duas mães e três filhas. Dois maridos e duas esposas e mais duas irmãs.Um sogro e uma sogra e mais um genro. VINTE parentes.
Vinte parentes compondo um sexteto.
É isso aí!
Por uma questão puramente numerológica, resolvemos alterar de Coral do Jacaré para Família Jacaré. É que as pessoas que olhavam não viam VINTE componentes. Viam apenas SEIS. E chamar SEIS componentes de Coral é um tanto “muito”, não é mesmo?
Além da questão numerológica houve a questão “pesquisológica”. Numa pesquisa junto ao INPI, descobrimos que já existiam uma Banda Jacaré e um Grupo Jacaré. E a gente acreditando que os jacarés eram abundantes só no Pantanal! Que nada! Também na música, os jacarés abundam!
Que fazer? Nós já éramos identificados como “os jacarés”. Não podíamos perder a identidade. O jeito era mudar... sem mudar.
A primeira lembrança foi a de “americanizar” o nome: “Coral do Aligator”. Mas, isto tinha um inconveniente: nós não cantamos música norte-americana. Só música brasileira.
Não bastasse isso, a Nina apontou para um sério problema fonético, para o caso de nos apresentarmos em Paris. Seria muito lógico que os franceses afrancesassem a pronúncia para“Coral do Aligateux” (leia-se Coral do Aligatô). E isso, ela, ciumenta, não iria aceitar. Um bando de francesinhas olhando para mim e gritando : “Ali!!! Gatô!!!” Sem essa! Segundo ela, o gatô é só dela e ninguém tasca! Essas mulheres!!!...
Por outro lado, tentei convencê-la de que nos seria muito útil, por ocasião da excursão ao Japão, pois a cada pouco estaríamos falando o nome do grupo, o que ajudaria muito a fixação do nosso nome no cenário musical nipônico. Como todos sabem, o japonês é um povo muito simpático e educado. Em cada aparição nossa estariam sorrindo e nos aplaudindo. E nós, brasileiros muito vivos e que não perdem oportunidade para aparecer, a cada vez (até ficarmos com dor na espinha), faríamos a clássica mesura oriental e agradeceríamos, sorrindo, com a clássica palavra japonesa “arigatô”. Porém, como dizem que os orientais trocam o “R” pelo “L”, nós agradeceríamos assim: “Aligatô! Aligatô!”. Gente! Isso marcaria demais o nosso nome. Ficaríamos conhecidos como o “grupo do jacaré agradecido”...
Aí, a Nina me deu um beliscão e disse para que eu “caísse na real!” Cantar no Japão? Só se fosse em algum karaokê do bairro da Liberdade, aqui em Sampa.
Por isso, resolvemos alterar o nome para Família Jacaré, mesmo.
Nestes quase três anos, contando sempre com a ajuda e orientação do Tato Fischer, temos nos apresentado em diversos eventos. No próximo dia 14 de setembro, a partir das 21,30 hs. o Família Jacaré estará apresentando o “Nós, Jacarés” no Vila Teodoro, ali na Rua Teodoro Sampaio, 1229, quase esquina da Av. Henrique Schauman, Pinheiros.
Antes disso, no dia 4 de agosto, no Espaço Cultural da Caixa Econômica Federal, na Praça da Sé, aqui em São Paulo, participaremos do espetáculo Mosaico-Brasil. No dia 10 de agosto, possível apresentação no evento Metrópole Poesia, do Grupo Bastidores, no bairro da Lapa.
Apareçam!
Uma receita muito legal
Gentes,
Existem textos meus espalhados por diversas listas de discussão. Desde a antiga Amantes das Orquídeas até à recente Orquídeas-Mundo Orquidófilos, passando pela intermediária Mundo Orquidófilo. Também na lista Amantes da Jardinagem. A lista que tem mais textos, entretanto, é a lista NESO (Não É Sobre Orquídeas). O grande drama, entretanto, é localizar esses meus textos. Devem ser umas vinte ou trinta mensagens perdidas entre várias centenas de milhares de outras mensagens enviadas por outras pessoas. Mas, a gente chega lá. Tenho algumas idéias na cabeça, para novos textos, mas, a preguiça tem sido mais forte que a vontade de escrever. Prometo que vou me curar disso.
O texto abaixo foi recuperado na lista NESO e é a prova de meus dotes culinários. Ou, melhor dizendo: do meu dote culinário. É que, até hoje, só criei uma receita.Lá vai ela:
Uma receita muito legal
Gentes: Está todo mundo demonstrando suas aptidões culinárias.
Também sou um grande cozinheiro. Estavam pensando que eu só sabia
falar de Dendrobium e de Paphiopedilum, né mesmo? Nananinanão!!! Tá
certo que eu sou um "cheff" de uma só receita, mas ela é ótima.
Vamos lá!
Pipoca de micro-ondas
1-Dirija-se ao super-mercado e compre um pacote de milho de pipoca
para micro-ondas. Existem diversos sabores. Não compre sabor de
sorvete de morango. É horrível! Aconselho a comprar daquelas que já
vem com sal. É muito mais prático, afinal a gente nunca sabe onde
está guardado o saleiro!
2-Importantíssimo: Não se esqueça de voltar para casa, mas, antes
disso, passe pelo caixa e pague, seu sem-vergonha!
3-Já em casa, retire a embalagem externa (para que o pacote
possa "estuuUUUUFFAAAARRRR", enquanto as sementes de milho explodem dentro da embalagem interna!)
4-Regule o micro-ondas para 4 minutos e ligue (antes disso, repare
se há eletricidade. Esta é uma condição importantíssima para o
sucesso de preparação para tão requintado e refinado prato).
5-Pela porta envidraçada do micro-ondas, fique assistindo, com
muuuuita atenção, ao pacote de milho ficar girando, girando,
girando... e estufando, estuFANDO, ESTUFANDO. É um programa
emocionante! Principalmente se levarmos em conta que não tem
intervalos para os comerciais.
6-Desligando-se o aparelho, abra, retire o pacote, procure pela
cozinha inteira uma vasilha em que você possa colocar a pipoca. Após
achar, é só abrir o pacote (cuidado com o ar quente que vai escapar
e que com toda certeza virá prá sua cara!), despejar a pipoca na
vasilha e... desfrutar! Acompanhamento indicado: uma Brahma bem
gelada!
Gentes, é muito bom! E eu precisava compartilhar essa receita com
vocês!
JF
Mestre cozinheiro autodidata
NESO 29/07/2004
domingo, julho 08, 2007
E por falar em nomes...
Por enquanto, segue o texto. Fico devendo uma foto de 1935, meus pais namorando em uma das praças de São Carlos-SP. Como vocês já devem ter percebido, o Bill Gates e eu não nos entendemos a contento. Assim, esperarei a primeira vinda de minha filha, aqui em casa, para anexar a foto. Tomara que, desta vez, que deverá ser a enésima vez que ela tenta me explicar, eu consiga aprender.
Só a comentar que, em 2005, por ocasião dessa publicação, minha mãe ainda era viva. O falecimento ocorreu neste ano de 2007, na madrugada da terça-feira de carnaval para a quarta-feira de cinzas. Minha mãe simplesmente “apagou”, sem nenhum sofrimento físico, um mês antes de completar 90 anos de idade.
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Isto eu já contei, aqui. Mas, como tenho um amor muito grande pelos meus pais (graças a Deus), vou contar de novo, agora para os que chegaram há pouco na lista. Os velhos de lista, se acharem que estou muito repetitivo, estão autorizados a pular esta mensagem e ir para a seguinte.
OS AMELIOS
De tardezinha, a Amelia, mocinha ainda muito novinha, ia depositar o dinheiro da féria do armazém de meu avô lá no Banco de São Paulo S/A, na Avenida São Carlos. Se o italiano soubesse o que se passava no banco... Mamma mia!!!...
No banco, tinha um caixa, novinho, mas bem jeitosinho, que logo botou os olhos na Amélia. E a Amélia, lógico, bem que gostou da história. E a paquera muda continuou por muito tempo. Naquela época não era como hoje. Hoje, na hora, o rapaz chega na garota, nem pergunta o nome, e já vai dizendo: "E aí, mina! Van'ficá?" Isso, se "mina" já não for gíria de passado muito remoto. Eu não consigo mais acompanhar o
desenvolvimento da juventude. Agora, logo ao primeiro olhar, se o rapaz não fala nada, é a própria garota que o convida para "ficar". E, ela, também, se esquece de perguntar o nome dele. Mas, parece, esse detalhe, hoje em dia, não é muito importante.
Mas, naquela época diferente, a troca de olhares lânguidos durava meses! Um dia, ele se encheu de coragem e foi falar com ela. Mas a coragem só dava para isso: falar com ela! Para começar a namorar precisava de muita, muita coragem a mais! Mas a coisa toda estava bem encaminhada. E eu sou uma das provas de que tudo deu certo! Mas, quando os dois se apresentaram, ela entendeu o nome dele errado: Américo. A partir disso, era Amélia e Américo. Até o dia em que ele se armou de coragem, mais uma vez, e disse a ela que não era Américo. O nome dele era Amélio! Aí, ela se espantou: "Mas eu achava que eu era a única pessoa com esse nome!" Não deu outra: casaram-se, em 1939, depois de vários anos de namoro e noivado, também costume, na época.
O primeiro filho, eu, demorou um pouco. Eu nasci na virada do ano, em 1º de janeiro de 1942. Existem algumas tentativas de explicação para essa data. Alguns dizem que minha mãe tomou um susto com o estouro de fogos de artifício que comemoravam o novo ano, e... eu nasci.
Outros já tem uma versão diferente, minha preferida. Naquela época, começando às 23,45 horas, nós tínhamos, aqui em São Paulo, a famosa Corrida Internacional de São Silvestre. Vinham atletas do mundo todo disputar a prova, que se prolongava até os primeiros minutos do novo ano. Era uma coisa tradicional (que a Rede Globo sepultou, transferindo a corrida para o dia 31, à tarde, em benefício de seus programas de finais de ano, com suas Xuxas e Faustões da vida!). Todos comemoravam a entrada do ano novo, acompanhando, pelo rádio, a corrida de São Silvestre. Lógico que todos torciam pelos atletas brasileiros, mas estes... só foram ganhar, pela primeira vez, já nos anos setenta. E, na virada de ano 1941/1942, mais uma vez, o Brasil perdeu a prova. Aí, para compensar, dando uma imensa alegria a todo o povo brasileiro, depois da corrida, eu nasci!
Naquela época (quanta diferença!), só se sabia se era menino ou menina quando a criança nascia. Quando muito, faziam a tal simpatia da agulha para tentar saber o sexo. Mas, a agulha também não entendia muito do assunto. E eu nasci menino! Não tenho nada contra as mulheres! Muito pelo contrário! Mas, não me arrependo de ter nascido menino. A Nina também é favorável ao fato de eu ter nascido menino.
Depois do nascimento, começavam os palpites: "Vai chamar-se Antonio", "Eu prefiro Artaxerxes!", "Vocês estão doidos? O nome é AMÉLIO! AMÉLIO Junior!". Eu, lá no meu bercinho, vendo toda aquela discussão entre tios, tias, avós, comadres... E já imaginando horrorizado: "Vou ficar conhecido como Amelinho!!! Essa não!" Me dava um desespero, que logo começava a chorar. Aí, minha mãe terminava com a discussão: "Todo mundo prá fora! Ele está com fome e precisa mamar!" E, para sorte minha, meus pais decidiram que eu teria um nome diferente.
Eu escapei. Minha irmã, não! Ela pegou o nome Amélia. Só que, como era costume na época, acrescido de um Maria: Maria Amélia! Até que ficou bonito. Eu acho!
Mas, a história nada tem a ver com minha irmã. Voltemos, pois, a dois anos e alguns meses antes. O meu nome! E meus pais resolveram, para o primeiro filho, homenagear meus avós paternos: Francesco e Giuseppina Catharina. Porém, de forma aportuguesada: Francisco, Catarina. Novamente, fiquei apavorado com aquela conversa de nomes: "Como irão me chamar?" E, na minha imaginação muito nova, pós-parto, pensei em uma combinação de nomes que me apavorou. Só não fiquei de cabelos em pé, porque nasci careca (acho!). No meu raciocínio, eu não percebia como iriam homenagear minha avó, que só tinha nomes femininos: Josefina Catarina. Eles não seriam tão doidos de darem a mim, um legítimo homenzinho, o nome de Catarina! Ou Josefina! Pensando bem, meu nome nem poderia terminar com a letra "a". O que meus coleguinhas iriam comentar de mim, na escola, embora isso ainda fosse um problema longínquo? E continuei matutando: Francisco Josefina? Nem pensar! Francisco Catarina? Nem sei qual o pior! Aí, no meu raciocínio, pensei: e se eles pegam uma parte do nome do meu avo e outra parte do nome de minha avó e formam um nome novo? Poderia dar certo. Mas, para
isso, seria necessário que a parte do nome de minha avó viesse primeiro, para evitar a terminação em "a" do nome novo. E eu pensei: pega-se uma parte do nome de minha avó: Cata, de Catarina. E, uma parte do nome de meu avô: Cisco, de Francisco. Juntando-se as duas partes, deve ficar original e bonito: Catacisco! Catacisco??? Não!!! Pode esquecer. Nessa altura, virei para o outro lado e adormeci. Enquanto dormia, sem minha participação, meus pais resolveram meu nome: masculinizaram o nome de minha avó e acrescentaram o nome de meu avô. E foi assim que eu fiquei José Francisco. Muito prazer!
JF
(publicado na lista NESO de discussão pelo Yahoo, aos 04/06/2005)
domingo, julho 01, 2007
Família Jacaré na "Festa de São Pedro, o Porteiro do Céu"
No passado, há mais de trinta anos, aqui em São Paulo-SP, eram comuns as festas juninas, comemorativas de Sto. Antonio, São João e São Pedro. Com o decorrer do tempo, isso praticamente desapareceu. Possivelmente, nas cidades do entorno, na chamada Grande São Paulo, como Cotia, Embu, Pirapora do Bom Jesus, Itapecirica da Serra e outras, cidades com boa parcela de população originária do Nordeste, esses festejos ainda devem ser comuns.
A tradição das festas juininas não poderia cair no esquecimento, como vem ocorrendo. Daí a importância da divulgação feita pelo Itamar Souto, na lista de discussão NESO (Não É Sobre Orquídeas), desses festejos ainda hoje realizados no NE. Obrigado, Itamar.
Ontem à noite, participamos de uma festa dessas. Maravilhoso proporcionar às nossas netas a oportunidade de assistir, ao vivo, manifestações do nossa folclore, da nossa tradição popular.
Na Vila Mazzei, na região Norte da cidade, uma festa de rua organizada pela Tania Clemente e pelo Marcos Silva, do grupo do Tato Fischer, e pelo pessoal da Rua Purus, o Eli Clemente e demais pessoas (desculpem não citar os nomes, mas fiquei sem saber).
Na ocasião, manifestações culturais muito interessantes proporcionadas pelos grupos
-Congada São Benedito, de Cotia-SP,
-Samba de Roda, de Pirapora do Bom Jesus-SP,
-Companhia de Reis Estrela do Oriente, de Vila Nhocuné, bairro da zona leste da Capital,
-Trança Fitas - Grupo "Ô de Casa", Vila Sabrina, daqui da Capital, com a participação ativa da Tania, "puxadora" da música.
E, entre as apresentações desses grupos, a apresentação do Família Jacaré.
No final, duas duplas caipiras, formadas de cantadores, violeiros e sanfoneiro. Um pessoal muito bom que, além da cantoria, ainda animou a enorme dança da quadrilha. Como as duas meninas já estavam totalmente "pregadas", saimos da festa às duas da manhã. Mas a animação desses cantadores e do pessoal da festa era, ainda, muito grande. Nem imagino até que horas foi.
Quanto à apresentação dos Jacarés, foi muito boa (ao menos, nós achamos! Modéstia à parte!). Nesses nossos três anos de caminhada, e contando com a experiência que nos é passada pelo Tato Fischer, aprendemos a, na hora, mudar nossa programação, de acordo com o que sentimos da assistência. E, mais uma vez, na hora, deixamos de cantar algumas músicas programadas, substituindo-as por outras que dariam resultado melhor às circunstâncias. O resultado foi o por nós esperado: muita gente cantando junto, inclusive as músicas que julgávamos menos conhecidas. O "ponto alto" da participação do público, cantando junto, talvez tenha sido o divertido "Mister Eco", de Alvarenga e Ranchinho. Como costuma afirmar o Tato, essa é uma das músicas do nosso repertório que não pode faltar nas apresentações. Grande e sábio Tato Fischer!
Destaque, ainda, para a enorme quantidade de "comes e bebes", com doces típicos espetaculares: pé-de-moleque, paçoca, etc.
Curiosidade: depois de nossa apresentação, uma das pessoas presentes veio nos dizer que foi casada com um dos integrantes do grupo "Raizes", que gravou a "Moda da Traira", ainda nos anos 70. E que ouviu, emocionada, a nossa interpretação dessa música, que nos foi passada, justamente, por um dos antigos integrantes do grupo, o Valdir da Fonseca. Gentes, como é importante citarmos os "créditos" das músicas que cantamos. Já é a segunda vez que isso nos acontece. E, nas duas vezes, tínhamos citado, tim-tim por tim-tim, todos os créditos de direito. A moça ficou tão feliz que prometeu enviar-nos um "vinil" do grupo "Raizes". Ebaaaaaaaa!!!
Quero, de público, agradecer à Tania, ao Marcos, ao Eli e aos demais organizadores da festa pela oportunidade de vermos que ainda existem dessas manifestações culturais em nossa cidade, bem como agradecer pela oportunidade de mais essa apresentação do Família Jacaré.
Abração
Zeca (JF) Jacaré
domingo, agosto 20, 2006
A pesca (primeiro, de três episódios)
Existem algumas características pessoais que são antagônicas. Como a modéstia e a soberba.
O pescador soberbo costuma afirmar: “Peguei um lambari de 18 Kg!”. Por sua vez, o pescador modesto afirma: “Sou tão ruim em pesca que nem sei onde fica a peixaria!”
Eu não sou nem soberbo e nem modesto.Apenas, gosto de pescar. Mas, uma “pescazinha bem simplesinha”, caipira, de vara feita de bambu, lá no lago principal do sítio, em Itatiba. Não tem dourado, pintado, nem tucunaré. Muito menos atum ou bacalhau, que o lago não tem, assim, o tamanho do Oceano Atlântico! Não! O lago é bem modesto, bem como modesta é sua população aquática. Tem tilápias, lambaris, traíras, patos, marrecos, garças... Jacaré não tem. Uma ocasião, pesquei um bagre. Não um baaAAAAAAAgreee!. Apenas, um bagrinho. Se tem um, presume-se que tenha mais. Outra ocasião, peguei um caranguejo. Ou melhor: foi ele que pegou minha isca, com uma de suas pinças. Tanto que, quando levantei o anzol para fora d’água, ele o soltou e caiu no chão. Fiquei espantado. Nunca iria imaginar de pegar um bicho daqueles, naquele lago. Com o pé, calçado com uma excelente e grossa bota, que eu não sou besta, empurrei-o de volta para a água.
Os empregados me confirmaram a existência de bagres e caranguejos. Isso foi muito significativo. Significava que, durante a semana, enquanto os patrões Amélios estavam em São Paulo, eles pescavam à vontade!
Mas, vamos deixar de lero-lero e passemos aos fatos. Ou, episódios.
1º EPISÓDIO, no qual a Nina fica pendurada, como o bondinho do Pão de Açúcar, e desiste das pescarias para o resto da vida.
Isto foi no primeiro ano da compra do sítio.
A Luciana tinha pouquíssimo tempo. A Nina começou a dar a mamada da meia-noite. E eu com uma pressa doida para ir pescar. Mas, tinha que esperar por ela. A Luciana não tinha pressa nenhuma! Leite havia à vontade. Tanto que minha mãe chamava a Nina de “vaquinha”. No bom sentido!!! Finalmente, uma da madrugada, Luciana já tendo arrotado e pego no sono, lá fomos os dois para o lago.
Lógico que eu não ficaria contente com uma pesca feita da margem. Não! Tinha que ser em alto-mar. Ou, em alto-lago. E, assim, fomos para o cais.
O cais, na verdade, era um pequeno estrado de madeira, de pouco mais de metro quadrado, fixado em quatro estacas de madeira fincadas em terra e no início da água. Na beirada principal, que dava para a água, uma grade de ferro, dessas de janelas, destinadas a nos dar falsa impressão de segurança, já que os ladrões as arrancam com muita facilidade, fazia as vezes de escada metálica que conduzia à embarcação aí aportada. A embarcação, que não passava de um bote de madeira de, quando muito, uns dois metros de comprimento, ficava amarrada nessa escada.
Mas, a função do cais, não era apenas o embarque dos passageiros na nau... na embarcação... no bote! Não, havia outra utilidade. Era sobre o cais que, nas noites enluaradas, como aquela, dormiam os patos. E era pato que não acabava mais! Dezenas, centenas, milhares de patos, sei lá! O que sei é que eles tomavam todo o espaço do cais! Centímetro por centímetro. E tem outra coisa. Gente, como pato é porcalhão! O tablado do cais era, além de dormitório, o seu banheiro. E o banheiro... bem, usado milímetro por milímetro.
Mas, eu queria pescar! Estava doido para pescar! Chegando ao cais, fui abrir caminho por entre os patos. A maioria, assustada, atirava-se, voando, na água. Outros, fugiam para trás, por terra. Me senti o próprio lobo mau invadindo um galinheiro.
Entramos no barco e fomos para o meio do lago, onde lancei a âncora (quatro tijolos amarrados). Coloquei um pedaço de minhoca no anzol e... pliffff. Comecei a pescar. A Nina ficou olhando para a minha cara (tinha luar, não esqueçam!).
-Você não vai preparar o anzol para mim?
-Tá preparado, amarradinho aí na ponta da linha.
-E a isca?
-Dentro dessa lata. É só pegar uma minhoca, cortar um pedacinho com a unha e enfiar no anzol.
-E você acha que eu vou pegar minhoca com a mão? Além disso, eu não vou conseguir espetá-la no anzol. Eu vou é espetar o meu dedo.
Haja paciência! Suspendi o anzol, prendi a vara para que ela não caísse na água, e, com muita paciência, preparei o anzol para a Nina. Passei a vara para ela e fiquei olhando. Eu tinha certeza de que ela iria jogar a vara na água e segurar o anzol. Pliffff... Jogou o anzol e ficou segurando a vara de pescar. Ufaaa!!!
Pliffff... Voltei a pescar.
-Tem pernilongo.
-Lógico! Você cheira a leite. Tá atraindo todos os pernilongos, daqui até o Japão. Fica quietinha que você está espantando os peixes.
E tinha os patos.
Gentes. Pato acordado de madrugada, vai nadar na lagoa. Podem acreditar. E pato, além de porcalhão, é curioso. E eles vinham nadar pertinho do barco para ver o que estava acontecendo. Sim! Acredito que era mera curiosidade. Nunca ouvi falar que pato fosse atraído pelo cheiro de leite.
Pliffff... pliffff... plifff... e nada de peixe.
Urruuuu... urrruuuu...
-Que foi isso!!!!
-Nada. É só uma coruja.
-E não é perigoso?
-Se você ficar quietinha ela não te enxerga e não vem te pegar.
Silêncio.
Meia hora depois, com muitos pios de coruja, patos nadando em volta do barco, pliffffs e mais plifffs, reclamações sobre pernilongos,além de dúvidas do tipo “Será que a Luciana acordou?”, que provocavam respostas do tipo “Se isso acontece, até o presidente da república vai ouvir. Fica quieta que você está espantando os peixes!”, resolvi encerrar a pescaria, para alegria da Nina.
Recolhidas as varas, recolhida a “âncora”, remei para o cais. Não sem, antes, atirar as minhocas restantes nos patos, que gritaram alegremente:
-Obaaaaa!!! Presunto!!!
Chegamos ao porto. Com toda a paciência do mundo, disse à Nina:
-Pega essa corda e prende no ancoradouro.
-Mas está tudo sujo. Onde vou prender a corda?
-Amarrrraaaaaaaaa!!!!
Gentes, ceis já viram alguém sem jeito? Mas, bem sem jeito? A Nina é mais sem jeito, ainda.
Na hora em que ela ia amarrar a corda na grade de ferro, ela conseguiu dar um impulso no barco e ele foi para trás. Em direção ao meio do lago. Acontece que ela já estava com quase meio corpo para fora do barco.
Gentes, o instinto humano de conservação é uma coisa impressionante. Para não cair na água, ela soltou a corda e se agarrou na primeira coisa que estava à mão: a grade de ferro do ancoradouro. Toda cheia de cocô de pato! Em uma fração de segundo, ela ficou completamente no ar, esticadinha na horizontal, os pés segurando a borda do barco, as mãos enterradas no cocô da grade ferro, e. alguns centímetros abaixo, a água. Não sei por que, mas, naquele momento, lembrei-me do bondinho aéreo parado, no meio do caminho, entre os morros da Urca e do Pão de Açúcar.
O momento era de emergência total e eu reagi da melhor forma que eu podia: cai na gargalhada! A sorte é que ela estava com as mão ocupadas, agarrada ao cocô. Caso contrário, ela me agrediria com um remo.
Depois de um certo tempo, quando me acabou o estoque de gargalhadas, eu consegui acudi-la, prender o barco, e voltar para terra.
Em casa, a Luciana dormia tranqüilamente.
Por enquanto é isso. Depois, vem o segundo episódio.
Abração
JF
(Publicado, originalmente, na lista de discussão NESO, 19/08/2006)
A verdadeira história do Teorema de Pitágoras
Vocês sabem que sou dotado de duas grandes virtudes: cultura e modéstia. Em matéria de cultura, não há quem me sobrepuje. Em modéstia, também não.
Isto posto, vamos à história do Pitágoras e seu famoso teorema. Na verdade, a história não é invenção minha. Alguém me contou. Apenas os detalhes (onde, quando, como) é que são o resultado de profundas pesquisas por mim realizadas.
Vocês lembram do Teorema de Pitágoras? Era o terror que nossos professores de matemática nos enfiavam na cabeça, quer quiséssemos, ou não, na época em que cursávamos o ensino básico. Mas, por que o Pitágoras ficou tão famoso com essa história toda? Eu explico.
Pitágoras era um professor de matemática. Isto é evidente! Mas, onde ele exercia seu ofício? Em Portugal, a terra dos nossos queridos José Andrade, Florinda e Teresa Silva. Mais precisamente, ele era professor de matemática em uma academia militar.
Acontece, entretanto, que, matemática enche o... E o Pitágoras, solteiro, passou a frequentar a alta sociedade de uma aldeia próxima, a ver se conseguia alguma rapariga jeitosa, para casar. E não é que encontrou?
Muito bom. Casou-se. E, como quem casa quer casa, Pitágoras, e sua esposa, logicamente, montaram sua própria casa.
Mas, o Pitágoras, professor de matemática, não tinha uma conversa muito atraente, digamos assim: uma conversa redonda como uma boa cerveja. Não! Era só: a mais b ao quadrado, c ao quadrado, etc. E a esposa foi ficando de ... cheio de tudo aquilo. E, aos poucos, não correspondia mais às conversas do Pitágoras.
O Pitágoras começou a desconfiar de que havia alguma coisa errada e comprou um revolver.
Um dia, um professor de português, um tal de Prof. Luiz K. Mãos, faltou, e o Pitágoras pode antecipar o horário de suas aulas. Muito conveniente, pois assim, iria mais cedo para casa.
Conveniente? Não. Foi isso que causou a tragédia.
O Pitágoras chegou em casa mais cedo. Abriu a porta e não viu a esposa. Devia estar no andar de cima. Resolveu surpreendê-la, subindo a escada sem nenhum ruído. Pois surpreso ficou ele, ao encontrar a esposa na cama, nua, na companhia de dois cadetes da academia. Não teve dúvidas. Sacou a arma e, com três tiros certeiros, matou os três.
O Pitágoras, como bom professor de matemática, era um sujeito muito meticuloso e deu ordens para que os três fossem enterrados no cemitério local: os dois cadetes à esquerda e, à direita, a esposa. Mais meticuloso ainda, ordenou que as covas fossem tapadas com grandes lápides quadradas de mármore. Quadrados perfeitos, não esqueçam que o Pitágoras era matemático. Mas, a lápide da esposa seria bem maior que a lápide dos infelizes estudantes da academia militar. Mais precisamente, teria uma superfície de tamanho equivalente à soma das lápides dos dois felizes infelizes. E, assim foi feito.
No dia seguinte, o mundo todo tomou conhecimento do ocorrido, através das manchetes dos jornais sensacionalistas:
"A SOMA DOS QUADRADOS DOS CADETES É IGUAL AO QUADRADO DA HIPÓCRITA LUSA"
E, assim, através dessa frase tão simples, mas, tão significativa, o Pitágoras passou à categoria dos matemáticos conhecidos mundialmente.
JF
(Publicado, originalmente, na lista de discussão NESO, aos 19/08/2006)