quinta-feira, dezembro 31, 2009

Por que sou José Francisco?



E por falar em nomes...

O texto abaixo foi publicado em uma lista de discussão da Internet. Eu havia perdido esse texto. Mas, graças a uma amiga muito querida, a Vera Coelho, de Fortaleza-CE, que o salvou e guardou, eis o texto. Obrigado, Vera.

Também foi publicado, aqui no Blog, em 2007. Pelo significado da data, ao menos para mim (hehehehehehe), torno a postá-lo.

A diferença para a postagem de 2007 foi a falta da foto de meus pais, namorando na praça. Naquela época (2007), por um desentendimento com o Bill Gates, não consegui colocar a foto. Hoje, melhor instruído e mais acostumado com os mistérios da internet, aí vai a foto de 1935, de meus pais namorando em uma das praças de São Carlos-SP.

Só a comentar que, em 2005, por ocasião dessa publicação, minha mãe ainda era viva. O falecimento ocorreu neste ano de 2007, na madrugada da terça-feira de carnaval para a quarta-feira de cinzas. Minha mãe simplesmente “apagou”, sem nenhum sofrimento físico, um mês antes de completar 90 anos de idade. Se ela fosse viva, no último dia 21 de dezembro, os dois comemorariam 70 anos de casados.

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Isto eu já contei, aqui. Mas, como tenho um amor muito grande pelos meus pais (graças a Deus), vou contar de novo, agora para os que chegaram há pouco na lista. Os velhos de lista, se acharem que estou muito repetitivo, estão autorizados a pular esta mensagem e ir para a seguinte.

OS AMELIOS

De tardezinha, a Amelia, mocinha ainda muito novinha, ia depositar o dinheiro da féria do armazém de meu avô lá no Banco de São Paulo S/A, na Avenida São Carlos. Se o italiano soubesse o que se passava no banco... Mamma mia!!!...

No banco, tinha um caixa, novinho, mas bem jeitosinho, que logo botou os olhos na Amélia. E a Amélia, lógico, bem que gostou da história. E a paquera muda continuou por muito tempo. Naquela época não era como hoje. Hoje, na hora, o rapaz chega na garota, nem pergunta o nome, e já vai dizendo: "E aí, mina! Van'ficá?" Isso, se "mina" já não for gíria de passado muito remoto. Eu não consigo mais acompanhar o desenvolvimento da juventude. Agora, logo ao primeiro olhar, se o rapaz não fala nada, é a própria garota que o convida para "ficar". E, ela, também, se esquece de perguntar o nome dele. Mas, parece, esse detalhe, hoje em dia, não é muito importante.

Mas, naquela época diferente, a troca de olhares lânguidos durava meses! Um dia, ele se encheu de coragem e foi falar com ela. Mas a coragem só dava para isso: falar com ela! Para começar a namorar precisava de muita, muita coragem a mais! Mas a coisa toda estava bem encaminhada. E eu sou uma das provas de que tudo deu certo! Mas, quando os dois se apresentaram, ela entendeu o nome dele errado: Américo. A partir disso, era Amélia e Américo. Até o dia em que ele se armou de coragem, mais uma vez, e disse a ela que não era Américo. O nome dele era Amélio! Aí, ela se espantou: "Mas eu achava que eu era a única pessoa com esse nome!" Não deu outra: casaram-se, em 1939, depois de vários anos de namoro e noivado, também costume, na época.

O primeiro filho, eu, demorou um pouco. Eu nasci na virada do ano, em 1º de janeiro de 1942. Existem algumas tentativas de explicação para essa data. Alguns dizem que minha mãe tomou um susto com o estouro de fogos de artifício que comemoravam o novo ano, e... eu nasci.

Outros já tem uma versão diferente, minha preferida. Naquela época, começando às 23,45 horas, nós tínhamos, aqui em São Paulo, a famosa Corrida Internacional de São Silvestre. Vinham atletas do mundo todo disputar a prova, que se prolongava até os primeiros minutos do novo ano. Era uma coisa tradicional (que a Rede Globo sepultou, transferindo a corrida para o dia 31, à tarde, em benefício de seus programas de finais de ano, com suas Xuxas e Faustões da vida!). Todos comemoravam a entrada do ano novo, acompanhando, pelo rádio, a corrida de São Silvestre. Lógico que todos torciam pelos atletas brasileiros, mas estes... só foram ganhar, pela primeira vez, já nos anos setenta. E, na virada de ano 1941/1942, mais uma vez, o Brasil perdeu a prova. Aí, para compensar, dando uma imensa alegria a todo o povo brasileiro, depois da corrida, eu nasci!

Naquela época (quanta diferença!), só se sabia se era menino ou menina quando a criança nascia. Quando muito, faziam a tal simpatia da agulha para tentar saber o sexo. Mas, a agulha também não entendia muito do assunto. E eu nasci menino! Não tenho nada contra as mulheres! Muito pelo contrário! Mas, não me arrependo de ter nascido menino. A Nina também é favorável ao fato de eu ter nascido menino.

Depois do nascimento, começavam os palpites: "Vai chamar-se Antonio", "Eu prefiro Artaxerxes!", "Vocês estão doidos? O nome é AMÉLIO! AMÉLIO Junior!". Eu, lá no meu bercinho, vendo toda aquela discussão entre tios, tias, avós, comadres... E já imaginando horrorizado: "Vou ficar conhecido como Amelinho!!! Essa não!" Me dava um desespero, que logo começava a chorar. Aí, minha mãe terminava com a discussão: "Todo mundo prá fora! Ele está com fome e precisa mamar!" E, para sorte minha, meus pais decidiram que eu teria um nome diferente.

Eu escapei. Minha irmã, não! Ela pegou o nome Amélia. Só que, como era costume na época, acrescido de um Maria: Maria Amélia! Até que ficou bonito. Eu acho!

Mas, a história nada tem a ver com minha irmã. Voltemos, pois, a dois anos e alguns meses antes. O meu nome! E meus pais resolveram, para o primeiro filho, homenagear meus avós paternos: Francesco e Giuseppina Catharina. Porém, de forma aportuguesada: Francisco, Catarina. Novamente, fiquei apavorado com aquela conversa de nomes: "Como irão me chamar?" E, na minha imaginação muito nova, pós-parto, pensei em uma combinação de nomes que me apavorou. Só não fiquei de cabelos em pé, porque nasci careca (acho!). No meu raciocínio, eu não percebia como iriam homenagear minha avó, que só tinha nomes femininos: Josefina Catarina. Eles não seriam tão doidos de darem a mim, um legítimo homenzinho, o nome de Catarina! Ou Josefina! Pensando bem, meu nome nem poderia terminar com a letra "a". O que meus coleguinhas iriam comentar de mim, na escola, embora isso ainda fosse um problema longínquo? E continuei matutando: Francisco Josefina? Nem pensar! Francisco Catarina? Nem sei qual o pior! Aí, no meu raciocínio, pensei: e se eles pegam uma parte do nome do meu avo e outra parte do nome de minha avó e formam um nome novo? Poderia dar certo. Mas, para
isso, seria necessário que a parte do nome de minha avó viesse primeiro, para evitar a terminação em "a" do nome novo. E eu pensei: pega-se uma parte do nome de minha avó: Cata, de Catarina. E, uma parte do nome de meu avô: Cisco, de Francisco. Juntando-se as duas partes, deve ficar original e bonito: Catacisco!

Catacisco??? Não!!! Pode esquecer. Nessa altura, virei para o outro lado e adormeci. Enquanto dormia, sem minha participação, meus pais resolveram meu nome: masculinizaram o nome de minha avó e acrescentaram o nome de meu avô. E foi assim que eu fiquei José Francisco. Muito prazer!

JF

(publicado na lista NESO de discussão pelo Yahoo, aos 04/06/2005)

9 comentários:

DILERMArtins disse...

Mas bah, JF.
Que linda história, um dia ainda vou contar a do dia do meu nascimento que também aconteceu num 1º de Janeiro(1950), agora sei porque me identifico tanto com seus textos e com sua escolha de viver no sítio, somo do mesmo signo, rsrs, também vivo numa chácara(de Nome Santa Rita(sou devoto)), entre as cidades de Pelotas e Rio Grande RS.
Um grande abraço e mais uma vez, desejo um ótimo 2010, para vc e sua família.

Blog do Beagle disse...

JF, quando vc virá para São Paulo? Já conheço a Nina, mas quero conhecer vc tb. Bj em todos de sua familia, inclusive no Ed. Elza

Lino disse...

JF, ótima a estória com a explicação do nome. Olhando bem acho que todos nós temos algo a contar sobre o nome que os puseram.

Claudinha ੴ disse...

Meu caro amigo JF, estas histórias de família marcam mesmo e é maravilhoso ter um blog para poder contar a todos. Adoro fotos antigas e saber da história de cada um. Já contei a dos meus pais, que viveram seu romance no início dos anos 60, acho mesmo lindo!
Meus pais coincidentemente têm nomes de tragédia grega, Aminthas e Iphigênia, que logo tratou de mudar os documentos para Efigênia,rsrs.
Um beijo!
PS: Vou enviar um email com uma foto de minha mais nova descoberta da botânica!

Rosamaria disse...

Oi, JF! Vim agradecer a visita, comentário e o desejo de melhoras. Graças a Deus tirei o gesso depois de três meses e as netas fizeram a festa.

Legal a história do teu nome!
Minha avó se chamava Rosa Amélia e eu sou uma das muitas Rosas da família por causa dela.

Temos ótimos amigos em comum.
Um abraço.

Magui disse...

Essa foi ótima realmente. Vc conseguiu se safar e o nome ficou bonito.Eu acho.
Qt à foto, eu acho que usava este tipo de roupa no Brasil pq meus pais tem uma foto da mesma época parecidíssimas.E somos de Belo Horizonte.

Lívis disse...

Nossa, muito interessante, seu blog, muito boa a história
Beijos Lívia

Luma Rosa disse...

Eu me lembro quando li sobre seus pais na primeira vez e que indiquei a leitura no "Luz". Também indiquei a leitura por e-mail e me divertia muito com o "E aí, mina! Van'ficá?" - Muitas coisas diferenciam os relacionamentos daquela época dos de agora, mas principalmente o valor dado aos pequenos gestos. Isto não tinha preço! E se hoje em dia, os relacionamentos estão tão frágeis, talvez a culpa seja da queima de etapas, principalmente o conhecer melhor.

Parabéns pelo texto, pela família e pela sabedoria! Beijus,

Maria Helena disse...

JF
Adorei a história. Linda,romântica,
engraçada e emocionante. Parabéns. Muito prazer José Francisco, rsrsr.
Abração