sexta-feira, fevereiro 10, 2006

de pássaros, cobras e orquídeas

Oi, gente.

Estou procurando antigos "causos", para reuní-los no meu... como é mesmo o nome, Lu? Blog? Blug? Blogger? Bom! Isso daí.

Localizei este em 09/05/2003, na antiga lista de discussão Mundo Orquidófilo-BR. A
resposta foi motivada por uma questão levantada por minha amiga Jane, de Macaé-RJ, pedindo uma orientação ao grupo de orquidófilos.

Abração
JF


Passarinhos (MO 09/05/2003)

"--- Em mundoorquidofilo@yahoogrupos.com.br, "Jane..." escreveu
> Oi Ilka
>
> Desculpe entrar na conversa, mas é que você falou em árvores com passarinhos... e eu estou tendo um probleminha com eles. Não tenho orquídeas em árvore, pois no meu quintal não tem árvore, mas como moro em um condomínio com muitas árvores está acontecendo o seguinte: os passarinhos estão invadindo o meu orquidário e "roubando" o xaxim dos vasos para fazer ninho. Tem um que está tentando fazer ninho em um cachepô de madeira onde tenho uma C. granulosa.
> O que os amigos me aconselham? Só não vale dizer para não usar o xaxim, pois teria que reenvasar tudo (perto de 200 vasos).
>
> Abraços a todos
>
> Jane - Macaé - RJ"


Jane

A solução para esse problema é muito simples: vai pondo mais xaxim!!! Completa o que eles tiram!!!

Uma parte das minhas plantas fica em SPaulo, no terraço do meu apartamento (13º andar). Uns 80 vasos. Costumo receber a visita, diversas vezes ao dia, de passarinhos: corruiras, tico-ticos e até beija-flor. É incrível, mas é SÃO PAULO mesmo!!! Não reparei se eles carregam xaxim. Apenas que tomam água (quando as plantas ainda estão molhadas, depois de regas) e que devem procurar por bichinhos, pois
não tenho problemas com pulgões, cochonilhas, lesmas, ou lá o que for. Mas, acima da utilidade que acho que eles tem, está a beleza de tê-los em meu terraço. Isso não tem preço!

No sítio, também não tenho notado esse tipo de problema, embora eu tenha voltado às plantas cultivadas em vasos (e com xaxim) há relativamente pouco tempo: ano e meio. Mas nas árvores... Não vejo nenhum prejuízo. Já aconteceu de eu precisar remover uma enorme touceira de Oncidium flexuosum e encontrar um ninho com ovos escondido no meio dela. Pois a touceira ficou no mesmo lugar até que os filhotes nascessem e tomassem seu rumo. Levou meses. Mas a prioridade era deles.

Mudando de passarinho prá cobra: na minha primeira fase de orquidofilia, anos 70, tinha meu orquidário, no sítio, encostado em um barranco. Sei lá por que, tinha uma cobra que vinha quase diariamente "admirar" minhas orquídeas. Ela vinha por cima, pelo barranco, e ficava passeando pelo meio dos vasos pendurados. Como eu tinha o costume de pegar cobras e aranhas e doar ao Instituto Butantã (mania que terminou no dia em que uma cobra escapou dentro do porta-malas do meu carro!!), eu já tinha um certo conhecimento sobre elas. Assim, quando da primeira vez em que vi aquela cobra
esverdeada, com o rabo que ia se afinando aos poucos, bem comprido, percebi que não era venenosa e a deixava à vontade dentro do orquidário (se bem que, quando nós dois estávamos lá dentro ao mesmo tempo, com o canto do olho eu ficava vigiando. Venenosa ou não, eu não sou besta!!!). E esse convívio durou meses. Um dia, porém, eu me
distrai e esqueci dela. Me abaixei para pegar qualquer coisa no chão. Quando levantei, ela estava na bancada e ficamos os dois assim: um olhando pro outro, cara a cara, olho no olho. Aí já foi demais!! Ter uma cobra te encarando, a 50 cm. do seu nariz, venenosa ou não, não é das coisas mais agradáveis. Principalmente sendo uma
cobra de mais de um metro de comprimento. Tomei o maior susto. Pulei prá tráz e peguei a mangueira de água. A coitada da cobra levou um banho que ela deve estar se secando até hoje! Com uma agilidade impressionante, alcançou os vasos pendurados e fugiu para o barranco. NUNCA MAIS voltou! Ficou magoada!!

Coisa engraçada. Eu me assustei e reagi. Ela ficou olhando para mim, esticada, a uma distância em que eu poderia pegá-la com a mão (isto é mera hipótese, naturalmente!), sem tomar qualquer atitude de defesa, de agressão ou mesmo de fuga. Teria se acostumado de tal forma comigo, que não via nenhum perigo? Não sei e nem perguntei.
Talvez a psicóloga da lista, a Gabriela (que diz que costuma rir das minhas histórias), possa explicar tudo isso. Afinal, tinha um ministro que dizia que cachorro também é gente. Essa cobra quase que se podia dizer que tinha atitudes humanas.

Jane: deixa o passarinho fazer seu ninho!!!

Grande abraço
José Francisco
SP/Itatiba/Vinhedo

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

O Pó da TV Gazeta

Era ali por 1976, mais ou menos, mês de novembro, época de exposição do Círculo Paulista de Orquidófilos. Qualquer publicidade era desejável e bem vinda.

Alguém conseguiu que fôssemos entrevistados no programa da Clarice Amaral, na TV Gazeta, sem pagamento algum à sua produção! Apesar de ter uma audiência minúscula, essas coisas aconteciam. Mesmo porque, eles tinham de viver, não é mesmo? E lá fomos nós, o João Vaz da Rocha e eu, numa sexta feira à tarde, para a entrevista com a Clarice Amaral.

A Clarice tinha um programa assim como o da Hebe Camargo. Eu não diria que a Clarice fosse uma precursora jurássica da Hebe Camargo. Nessa época, a Hebe já era velha.

A TV Gazeta estava instalada no mesmo prédio que o Cursinho Objetivo, na Avenida Paulista.

Agora, imaginem o Vazinho, com seu metro e meio de altura e eu, cada um com meia dúzia de vasos de orquídeas floridas pendurados por seus suspensórios metálicos em nossos dedos das mãos, indo do estacionamento onde ficara o carro até o edifício, subindo aquelas escadarias no meio da estudantada espantada ("De onde será que vieram esses dois doidos enternados e engravatados carregando essas plantas?") e, pior de tudo, entrando com toda essa tralha em elevadores lotados!

Chegamos ao estúdio. Pessoal, nunca vi tanto cabo elétrico correndo pelo chão, para todos os lados. Um lugar muito bom para a atuação da dupla alemã Kurtz e Circuitz. Então era por isso que tanta emissora de televisão pegava fogo, naquela época!

Um produtor veio nos receber e sua primeira pergunta foi sobre as plantas: se eram presente para a equipe de produção. Toca explicar que não podia ser. Eram plantas de expositores, especialmente levadas para enfeitar o programa da Clarice Amaral. Aí, pediram-me que redigisse as perguntas que a Clarice iria fazer para mim (o Vaz da Rocha não apareceria. Não havia condições de duas pessoas serem apresentadas ao mesmo tempo. Falta de espaço). Redigi as perguntas.

Estava sendo preparado o "palco" para o programa. Palco era uma forma de falar, afinal, não tinha público. Era um salão, com um cortinado no fundo, fazendo "papel" de cenário. Um sofá para duas pessoas e meia (acho que a Clarice não queria ficar encostada em mim. Eu, pelo menos, não queria ficar encostado nela! Mesmo porque, a Nina estava em casa assistindo o programa. E, a um metro do sofá, uma mesa, sobre a qual estenderam uma toalha e nós acomodamos as orquídeas. Vocês já perceberam que o programa era "ao vivo", não é mesmo? Não lembro se nessa época já existia o video-tape, mas era querer demais da TV Gazeta. As câmeras... Melhor dizendo: a câmera era daquelas antigonas, maior que uma caixa de papelão de embalagem de computador! Eu disse "A" câmera porque era uma só. Parece que as demais estavam quebradas. Ao menos me explicaram assim.

Começa o programa. A Clarice faz suas saudações aos telespectadores paulistanos (a Nina, minha sogra, meus filhos, e mais uma meia dúzia de orquidófilos previamente avisados), e anuncia a primeira entrevista da tarde: o presidente do Círculo Paulista de Orquidófilos. O câmera-man desviou a câmera da cara dela para a minha, que vinha entrando no "palco". Sentei-me, e o câmera-man desviou a objetiva para ela. E começou a entrevista.

Aqui, interrompo um pouco, para descrever melhor o ambiente. Quase dezembro, calor de rachar. Um salão fechado sem qualquer refrigeração. A única coisa que amenizava ligeiramente o calor era um ventilador, no chão, na nossa frente, em local onde o câmera-man não o derrubasse. O ventilador era desses tipo "prá onde eu olho?". Sabem como é? Ele vai ventilando (vrrrrrrrruuuuuuuuummmmm) e deslocando suas hélices para direita, para a esquerda, para a direita, para a esquerda, incessantemente, enquanto não enguiça. E aquele não enguiçou. O câmera-man fazia milagres. Focalizava a Clarice, me focalizava, voltava na Clarice, ia até a mesa de orquídeas, voltava na Clarice...

E a Clarice? Bom, ela ainda não havia terminado de se compor, quando o programa precisou ir para "o ar". Acredito que não havia maquiadores, pois ela mesma estava se colocando os cílios postiços. Então, a coisa funcionava assim: o câmera-man fixava-se nela. Ela, brilhantemente, me fazia uma pergunta bem inteligente (que eu mesmo havia redigido previamente). O câmera-man vinha com o foco na minha direção e eu começava a responder. Nesse meio tempo, a Clarice jogava a ficha que havia acabado de ler para longe da visão, pegava um espelho de mão e ficava tentando ajeitar seus cílios (postiços). E eu lá respondendo. O câmera-man se enchia (desculpem o termo) da minha cara, voltava a câmera na direção dela, mas passando por cima, mostrando detalhes do cortinado (vocês não imaginam que ele fosse mostrar a Clarice grudando cílios postiços nos olhos, né?) e descendo para as orquídeas. Como eram poucas, logo ele voltava, passando sobre a cabeça dela, novamente, e me fixando. Quando eu terminava de falar, ela percebia que eu já havia respondido e punha seu espelho de lado e pegava mais uma ficha, para poder me fazer outra inteligente pergunta.

Mas, gente, tudo ali era de uma precariedade total. O chão, acho que não via uma vassoura desde a época do descobrimento do Brasil (se é que os índios varriam chão. Se não varriam, então nunca fora varrido!).

E foi aí que aconteceu o desastre. Lembram do ventilador vrrrrrrruuuuummmmmrando de um lado para outro? Pois é. Numa das idas e vindas do ventilador, ele resolve jogar um cisco bem dentro de um olho da Clarice Amaral. Gente, já vi mulher ficar brava! Mas, como aquela, não! Ela se contorcia tentando enxergar o cisco com seu espelho, bem seguro em uma das mãos. Com a outra mão, ela coçava o olho. Mais a outra mão também coçando o olho, e com cuidado para não derrubar de vez os cílios. A outra mão, gesticulava contra tudo e contra todos. E mais a outra mão... Numa hora dessas, as mãos se multiplicam.

E eu lá, respondendo à pergunta. O câmera-man não mais me tirou do foco. E ele era louco? A resposta chegou ao fim. Só que ela não se preparou com outra ficha (ela nem sabia mais onde estava!), a fim de me dirigir outra inteligente pergunta. Agora, era eu sozinho contra o mundo. Continuei falando. Eu mesmo me fiz a pergunta seguinte e respondi. E, assim, fui até o final da entrevista, afinal, ela não tinha mais condições de me perguntar nada. Quando ela, finalmente, conseguiu se recompor um pouco, ela agradeceu minha presença (nessa hora, timidamente, o câmera-man voltara a focalizá-la) e encerrou a entrevista. E a TV Gazeta jogou "os comerciais". A mulher saltou do sofá, como se trinta e oito molas tivessem se soltado, ao mesmo tempo, bem em baixo do... você sabem!... dela. O Vaz da Rocha e eu percebemos que, ali, naquela hora, provavelmente ocorressem agressões físicas. Tratamos de pegar as orquídeas e sair correndo...

Abração

JF

(extraído de lista NESO, publicado em 09/01/2006)