Mês de abril terminando. Muito trabalho com nossa exposição de orquídeas. Sucesso total! Depois posto fotos e falo um pouco sobre ela. No momento, estou totalmente entregue às declarações de imposto de renda de clientes. Véspera do prazo final e ainda uma porção delas para serem concluídas. Naturalmente, dos clientes que deixam para a última hora (e sempre faltando documentos), apesar de serem avisados desde o início de março. Sempre os mesmos!
Assim, nada mais justo que um momento de descanso.
Gentes, agora estou escrevendo para a Revista Plural, da minha amiga muito querida, a Lunna Guedes.
A Revista Plural, que já está em seu nono volume e é trimestral, em março, publicou minha primeira crônica para a revista, "Tormento na tormenta", lá na "Coluna do JF". "Muito chique", como se diria antigamente.
Mas, a Revista Plural não tem apenas o JF. Muita gente boa escreve na revista. Vale a pena ir ver! E ler! O endereço, onde podem ser lidas todas as revistas editadas até agora é www.pluralrevista.blogspot.com.br
Eis o texto publicado *
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Mês de novembro último. João passou o final de semana em São
Bernardo do Campo-SP. No domingo, pela manhã, quebraram-se seus óculos de tal
forma que não havia fita adesiva alguma que servisse para algum conserto de
emergência.
Às seis da tarde, míope feito um gambá bêbado, se é que gambá
bebe e consegue ver alguma coisa nessa situação, saiu rumo à sua casa,
esperando fazer todo o trecho de volta ainda de dia, o que lhe facilitaria
muito as coisas, desde que nenhum policial rodoviário o parasse e constatasse a
sua obrigação de dirigir com os olhos devidamente cobertos por lentes
corretivas. Afinal... Só uns 160 km.
Já na Via Anchieta, pegou a direção Litoral, para alcançar o
Rodoanel e, daí, seguir até à Via Bandeirantes e Itatiba, sua cidade.
Só que, nessa estrada, foi recebido por uma forte neblina,
daquelas tão fortes e pesadas que um pouquinho mais e ela se tornaria sólida.
Mas, como quem sai na chuva é para se molhar, quem sai na cerração é para não
enxergar o caminho de casa. Foi o que aconteceu com João, que passou
direto pela entrada do Rodoanel sem perceber nada. Só foi desconfiar de algo
errado mais para frente. Ou ele havia passado a entrada. Ou haviam mudado a
entrada do Rodoanel de lugar. E foi assim que, ao chegar em Riacho Grande (beira
da represa), conseguiu fazer o retorno e voltar para trás. A muito custo
conseguiu encontrar a entrada do Rodoanel e ir pelo caminho certo. Aí, já no
bom caminho, desapareceu a cerração. Oba! Hora de recuperar o tempo
perdido.
Ficou só na vontade, pois desabou aquela chuva torrencial que o
obrigou a reduzir em muito a velocidade do carro. Mesmo assim, tocou em frente
pois sabia que uma parte da volta, obrigatoriamente, já seria no escuro. E a
chuva continuava, sempre torrencial, por todo o trecho de Rodoanel e, depois,
na Via Bandeirantes. Sem trégua! Ora, se sem óculos enxergava mal, imaginem com
chuva forte. E chegou a noite, quando todos os gatos são pardos, que as luzes
dos faróis brilham no asfalto molhado feito pote de bolinhas de gude que se
quebra esparramando seu conteúdo para tudo quanto é lado, inclusive lado de
cima, de baixo, num maravilhoso ofuscamento que só um míope pode imaginar e que
o deixa totalmente desorientado. Mas, tinha que voltar para casa. Gentes,
garanto para vocês, ele passou a dirigir pelo olfato. Só pode ter sido isso,
pois, finalmente, chegou à estrada que liga Jundiaí a Itatiba. Restavam pouco
mais de 20 Km para chegar.
A chuva diminuíra a intensidade, mas continuava. Naturalmente,
como Lua não gosta de chuva, não havia nenhum luarzinho mixuruca para ajudá-lo.
O problema, entretanto, é que esse trecho está em obras de duplicação. Assim, é
um tal de rodar uns quinhentos metros e um desvio jogá-lo para a outra pista, e
depois voltar à pista inicial, para depois retornar à outra pista, e assim por
diante, de deixar marujo acostumado com mar bravo bem enjoado. E tinha, no
asfalto molhado, o reflexo dos faróis dos carros em sentido contrário... E
parece que o estado de São Paulo inteiro resolveu passar por ali, no sentido
contrário, para dificultar ao máximo qualquer possível indício de visão... Só
pode ter sido mesmo o olfato que funcionou. Acho!
Mas, e a fila atrás de João, então! Provavelmente, nessas
alturas, a longa e lenta fila já devia estar por Curitiba, imagino. Quando dava,
João ia bem para à direita, na esperança de que alguém o passasse e, aí sim,
conseguisse seguir as luzes vermelhas, mesmo que não muito nítidas, do carro à
frente. Isso o ajudaria muito.
Gentes, estava tudo mesmo muito ruim. Chuva, escuridão, reflexos
no asfalto molhado, desvios de uma pista para a outra, faróis em sentido
contrário... Por mais que diminuísse a velocidade e encostasse para a direita,
ninguém ousava passar à sua frente. Todo mundo o seguia, de forma educada e
obediente, certos de que ele estava vendo por onde andava e ciente das
dificuldades do caminho. Até chegar em Itatiba. Aí, todo mundo tomou seu rumo e
ninguém foi atrás, entrando dentro de seu sítio. Também, era só o que faltava!
A dedução do João é que todos aqueles motoristas, no domingo de
manhã, haviam quebrado seus óculos e estavam sem enxergar nada, também. Só
podia ser isso! Em todos os casos, fica comprovado o ditado que diz “em terra
de cego, quem tem um olho é rei. E quem não tem nenhum é guia de caravana.” E,
na segunda feira, mandei fazer novos óculos. Opa! Eu, não. O João, oras!