domingo, agosto 26, 2007

Família Jacaré é "show"


Alô, amigos.

Esta é uma mensagem diferente. Não é uma historinha. É um convite para um "show".

O quê?
Show "Nós, os Jacarés". Aproximadamente uma hora e quinze minutos de muita alegria, música brasileira tradicional e "causos".

Quem?
O grupo Família Jácaré, claro! É um grupo de vinte parentes que compõem um... Um quê? Um sexteto: Vô Zeca Jacaré, Vó Nina Jacaroa, Lu Farias Jacaroa, Vagner "Rodapé" Jacaré, Juliana Jacarete e Vanessa Jacarete. Como pode? Venha ver o "show" para saber como é isso. Três gerações de uma mesma família cantando juntos.

A Direção artística?
Ahhh! Tato Fisher! Pianista, cantor, compositor, mágico, professor dessas artes todas, regente do grupo coral "Amídalas Cantantes", radialista, diretor teatral, diretor musical... Pensam que é só? Não! Participou do grupo inicial dos "Secos e Molhados".

Que mais?
A "abertura" do "show" será o quadro "O malandro e suas encrencas", com os cantores Frederico Santiago, Flavia Greco e Tânia Clemente. No teclado, Tato Fisher.

Quando?
No dia 29 de setembro (sábado), às 21 horas.

Onde?
No "Espaço Vila Teodoro", Rua Teodoro Sampaio, 1229, quase esquina da Av. Henrique Schauman, pegado ao Banco Itaú. Existem dois estacionamentos para deixar os automóveis, um em cada lado da rua, no quarteirão anterior. Não haverá problema, pois "os astros" me garantiram que, nesse dia, não choverá (se chover, eles terão que me devolver o dinheiro das velas que eu já acendi!!!...).

É isso, gente! Venham saber como pescar um tubarão, ou uma traira, no interior de Minas Gerais. Venham, também, saber por qual motivo "trabaiá é pecado!"... Ou, ainda, "u qui é qui minha muié teim, que as ôtra num teim!". E... "pru que qui a muié mi deixou"? Tudo isso será contado e cantado no "show".

Aguardamos vocês.

JF
(conhecido, nos meios musicais, por Vô Zeca Jacaré! EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE)

quarta-feira, agosto 22, 2007

Eu não consigo entender "arte" sem compartilhamento.
O pintor e o escultor fazem suas pinturas e esculturas para expô-las a outras pessoas. O poeta escreve poemas para serem lidos por outras pessoas. O compositor compõe músicas para serem ouvidas por outras pessoas.

Beethoven, o gênio que compõs suas principais sinfonias já em estado de surdês, também media sua obra pela recepção que o público dava à mesma. Seus biógrafos contam que, quando da estréia de sua monumental nona sinfonia, ao terminar a apresentação, Beethoven, que fizera a regência da orquestra executante, começou a recolher suas partituras sem ouvir, atrás de si, o público que o aplaudia entusiasticamente. Foi preciso que os músicos da orquestra, também totalmente entusiamados com aquela que, até hoje, é considerada como uma das principais obras primas da humanidade, em todos os tempos, o virassem para que ele visse a reação do público, em pé, aplaudindo-o. E foi assim que o grande compositor, totalmente emocionado, compreendeu a grandeza do que acabara de apresentar.

Evidentemente, o Família Jacaré não é composto de gênios como Beethoven, Michelangelo, Shakespeare, Camões, Caruso, e outros tantos artistas geniais. Mas, fazemos a nossa "artezinha". Isso fazemos! E, como tal, gostamos de apresentá-la às pessoas. E, quando percebemos que estamos agradando, isso nos dá prazer e serve de incentivo para melhorarmos sempre.

Ontem, às duas da tarde (terça feira), fizemos nossa apresentação em um programa na Radio Pax, emissora que transmite via Internet e é mantida por uma entidade de cunho esotérico, aqui em São Paulo.

A primeira coisa que chama a atenção, no nosso grupo musical, é o fato de sermos seis pessoas de três gerações diferentes, de uma mesma família. A noção "família", para o brasileiro, é uma coisa muito forte, admirada, e que chama muito a atenção. Outra coisa que chama a atenção sobre o grupo é o fato de serem músicas brasileiras antigas, alegres, daquelas que remetem as pessoas a boas lembranças de seus passados. Finalmente, chama a atenção o fato de três gerações estarem se apresentando de forma totalmente descontraída, igual, sem preocupações de vedetismo de uns ou outros, cantando com muito prazer. Divertindo-se, mesmo. É uma alegre festa familiar.

Para a apresentação na Rádio Pax, fôramos convidados pelo Tato Fischer, para sermos entrevistados em seu programa semanal e para cantarmos três músicas de nosso repertório. A entrevista acabou se estendendo e foram apresentadas umas dez músicas. Com isso, a apresentação se estendeu por por uma hora e quinze minutos, tendo, inclusive, sob olhares aprovadores da sua apresentadora, avançado em quinze minutos do tempo do programa seguinte.

Coincidentemente (ou não!), o locutor Tato Fischer, que foi integrante do grupo musical "Secos e Molhados", um amigo muito querido, além de cantor, compositor, instrumentista, mágico, professor de canto, diretor musical, diretor teatral, e outras qualidades, é o nosso Diretor Artístico e fã entusiasmado.

O programa começou muito bem, com nossa música de abertura "Jacaré", do compositor gaucho Paixão Cortes. Em seguida, relatei a composição dos "vinte parentescos" que unem os componentes do grupo. O Tato, brincando, desafiou os ouvintes a advinharem qual era o número exato de componentes do grupo. Não demorou muito para chegar um e-mail com a primeira resposta: OITO! Mais que a resposta errada, o que chamou a atenção foi o nome do remetente, Antonio Prenholato, nosso amigo orquidófilo de Brasília. Ao percebermos que os amigos estavam atentos ao programa, o "astral" do grupo, que já estava alto, subiu para mil!

Certa vez, o Prenholato postou, na lista NESO, uma crônica de sua autoria com uma história de uma pescaria. Essa história, de um humor muito fino, nós a adaptamos e a incorporamos ao repertório do Família Jacaré, sob a forma de um "causo" representado por mim e pela neta Vanessa (o "cumpadi Antonho"). Não estava prevista a sua apresentação na Rádio, mesmo porque, como é "representação", muito de sua graça estaria perdida. Porém, até hoje o Prenholato só ouve falar da história e ainda não a assistiu. Não podíamos deixar passar a oportunidade. Assim, na hora, de improviso, apresentamos uma versão "para rádio", especialmente dedicada ao ouvinte Antonio Prenholato! hehehehehe!

E, dessa forma, improvisado e informal, o programa foi se desenrolando.

Para uma das músicas, bem ao estilo das antigas emissoras de rádio do interior - "Fulano dedica a música tal para ciclana" - nós apresentamos o "Rede de Varanda", de João Bá e Gereba, e a dedicamos à Maria Rita, nossa querida amiga do Rio de Janeiro. É que a música retrata um cenário do vale do Rio Paraiba fluminense, na região em que a Rita tem sua casa de campo. O detalhe da dedicatória foi notado pela querida amiga Ariane, também carioca e que "assistiu" o programa, e comentado por ela na lista NESO. Pena que a Rita, no momento da apresentação, estivesse "brigando" com o técnico do computador e tivesse ficado impossibilitada de ouvir. Rita, ainda apresentaremos essa música a você, "ao vivo".

Outro momento muito significativo para nós foi quando recebemos da técnica do programa a comunicação de que chegara um e-mail do nosso amigo Júlio Betti, daqui de São Paulo, inclusive tendo anexado uma foto de uma apresentação nossa em sua casa.

O Júlio, grande violonista, juntamente com sua esposa Doris e a filha Juliana, ambas cantoras com vozes muito bonitas, uma família muito linda, costumava promover em sua casa saraus musicais. Esses saraus, interrompidos por motivo de doença em família, deverão ser retomados em breve. Foi frequentando essas reuniões na casa do Júlio que nos sentimos incentivados a dar prosseguimento ao grupo musical Coral do Jacaré, surgido um ano antes e praticamente paralizado, após duas únicas apresentações, de duas músicas, numa sala de música via-Internet.

Assim podemos dizer que o Júlio, mais a Doris e a Juliana, são padrinhos do Família Jacaré, nosso nome atual. E foi gratificante saber que ele estava atento à nossa audição.

Aliás, por falar em padrinhos do grupo, nosso primeiro padrinho é nosso amigo de Brasília, o Bernardino Damião. Durante todo ano em que estivemos "em recesso", de nossa segunda audição, na Internet, ouvida pelo Damião, até o ressurgimento, na casa do Júlio, ele nos ficou cobrando "a volta" e a gravação do CD. Grande Damião! Obrigado, amigo! Você é um dos responsáveis, aliás o primeiro responsável incentivador, do grupo.

Outro momento importante e de emoção, durante o programa, foi a chegada do e-mail da Dulce Valverde, compositora com algumas letras musicadas pela Lu. A Dulce estava acompanhando o programa nos Estados Unidos e fez questão de nos felicitar durante a audição.

Sabemos que outros e-mails chegaram à produção do programa, durante nossa apresentação. Mas, somente estes três nos foram repassados. De qualquer forma, agradecemos a todos os que se manifestaram. E, logicamente, a todos os que ouviram, mesmo não tendo se manifestado. Sabemos que muitos amigos não puderam ouvir por estarem sem disponibilidade de equipamento, no momento da audição, ou por qualquer outro motivo. Mas, só de sabermos que, ouvindo ou só em pensamento, eles estavam conosco, para nós é uma satisfação muito grande.

E, assim, tivemos mais uma apresentação. Mais uma etapa! Outras já vem vindo por aí, já com várias audições programadas até o final do ano, nesse caminho que adotamos para levar alegria às pessoas, para ficarmos satisfeitos conosco mesmos, e para, dentro de nossas pequenas possibilidades, mantermos viva a memória de antigas músicas que fazem parte da cultura brasileira.

É assim que compartilhamos com vocês nossas cantorias, nossa forma, ainda que pequenina, de fazer arte. E também compartilhamos nossa amizade e amor.

Abração

JF
ou Zeca Jacaré
dependendo da lista (hehehehehehehe)
Mais notícias, diretamente no Blog:
www.blogdojf.blogspot.com

Postado, no dia 22/08/07, também nas listas NESO e TatoFischer

quinta-feira, agosto 09, 2007

Romance de uma arara e de um ororo

Gentas e gentos.

Qual é o masculino de arara? Vocês sabem, aquele bicho voador com um empenamento todo colorido. Acho que dizer "ororo" é um tanto forçado, né mesmo? Bem, vamos supor que seja "araro". Ao menos é como definíamos o Jô.

Esta história começa ali pelo final dos anos setenta, início dos oitenta.

A casa de meus pais, no Itaim-Bibi, aqui em São Paulo, estava no meio de um enorme terreno de 1.200 metros quadrados. Meus pais, vocês estão já cansados, de saber, eram do interior. Minha mãe, sãocarlense, a terra do Zé Roberto. Meu pai era de Dourado, bem no centro do estado, mais precisamente do distrito de Itaju. - Um dia ele quis mostrar aos filhos sua cidade. Foi tanta gozação, tanta risada, que não voltou mais lá! Mas, isto é outra história. Voltemos a falar de araras.

Naquela época, o Itaim-Bibi ainda estava começando a crescer verticalmente. Ainda existiam casas com enormes quintais. O nosso, particularmente, era um enorme pomar. Tinha três jabuticabeiras, bananeiras, uma nespereira, mamoeiro. E outras coisas. Tinha até um famoso chuchuzeiro que foi "morrido" misteriosamente, como eu (me parece!) já contei aqui.

Com essa semi-floresta, era natural a vinda ao quintal de muitos pássaros.

Um dia, apareceu por lá uma enorme arara vermelha. Provavelmente fugitiva de alguma gaiola, a coitada estava em mísero estado, demonstrando muita falta de cuidados dos donos com o animal.

Ora, dizem por aí que o que cai na rede é peixe. Óbvio que não saimos pela rua perguntando quem perdera uma arara. Embora, se aparecesse alguém que provasse que era o dono do animal, certamente o levaria embora. Mas, apesar de toda a gritaria que a arara estava acostumada a fazer, ninguém apareceu. Sorte nossa! E da arara!

Bem tratada, logo ela recuperava a beleza de suas penas e a sua natural alegria. Solta no quintal, com água, comida e uma boa "cama", ia de árvore em árvore e por lá foi ficando. Considerou-se em uma nova casa.

Um dia, passados vários anos, a casa foi vendida para que fosse levantado, no local, um edifício de 17 andares. Soubemos, depois, que as três jabuticabeiras foram tiradas com o máximo cuidado e transportadas para o sítio de um dos donos da construtora, onde elas devem estar vivendo muito bem, até hoje. Quanto à arara, mudou-se lá para Itatiba, no sítio de meus pais, onde se encontra até hoje.

Existem muitas histórias engraçadas da arara, mas que deixo para contar em outra ocasião para não me alongar. Afinal, o que quero, mesmo, é contar sobre o Jô.

Entretanto, antes de falar nele, ainda devo dizer que, de vez em quando, a arara botava ovos e cismava de chocá-los. Fazia um ninho embaixo de um armário da cozinha e lá ficava. Lógico que, os ovos não sendo "galados", não nasciam ararinhas ou ararinhos. De vez em quando, minha mãe, com pena do instinto maternal da arara, colocava no meio dos ovos dela algum ovo de garnizé. Estes eclodiam. E a arara os tratava como se seus próprios filhos fossem. O pior é que esses garnizés acabavam por adquirir costumes ararísticos. Quase esqueciam que, de verdade, eram galináceos. Só não aprendiam a falar.

Foi então que meu pai resolveu atuar na criação e transformar-se em agente da natureza.

Diz a Bíblia que Deus, depois de criar o homem, disse: "Não é bom que o homem fique sozinho!". E criou a mulher. E daí, vocês sabem no que deu: namoro, casamento, filhos.

E meu pai disse: "Não é bom que a arara fique sozinha!"

Pergunta daqui, pergunta dali, conseguiu comprar um araro (vocês têm certeza que não é ororo, não é mesmo?), ao qual foi dado o carinhoso nome de Jô.

O Jô vivia empoleirado pelas árvores. Descia para comer e dormir em seu canto. Incrível era a sua capacidade de imitar as vozes das pessoas.

Meus pais, já com a idade avançando, logicamente foram incorporando hábitos próprios da velhice, tais como a ranzinzice e a teimosia. E, às vezes, discutiam entre si, cada um querendo ter mais razão que o outro. Isso, evidentemente, era um bom motivo de "gozação" de filhos e netos, pois, dalí a pouco, lá estavam os dois de mãos dadas assistindo a algum programa de televisão.

Certa manhã, alí pelas seis da madrugada, depois de já ter sido acordada às três pelos galos que vinham cantar sob a janela de nosso quarto, a Nina acorda com o barulho de uma discussão meio inteligível de meus pais.

" Amélio! Vo..." E não dava para entender o que minha mãe falava. Mas, a resposta era imediata:

"Amélia! Vo..." E também não dava para entender o que meu pai respondia.

"Começaram cedo..." pensou ela bem baixinho, para não me acordar.

Naturalmente, essas formas de acordar no meio da noite fazem com que os instintos naturais se manifestem e as pessoas sintam vontade de ir ao banheiro. A Nina, moça normal e saudável, logicamente, levantou-se para ir... "lá". Ao passar em frente ao quarto de meus pais, percebeu que os dois dormiam a sono solto, apesar de, fora da casa, a discussão continuar correndo solta. Isso merecia uma investigação cuidadosa. Pois não é que o Jô, no alto de uma árvore, ao lado da casa, era o protagonista único da discussão? O bandidinho sabia imitar a forma de falar de meu pai e de minha mãe. E lá ficava ele, no alvorecer do dia, se divertindo na representação teatral de uma "briga" dos Amélios.

Mas, voltemos ao principal, que a história já está longa: o namoro, o casamento, os ararinhos e as ararinhas tão ansiosamente aguardados.

Bem, o desfecho foi outro, bem diferente do esperado.

Nada de namoro! Nem chegavam perto um do outro.

Depois de muito pesquisar e perguntar, soubemos da verdade: as araras, quando formam um casal, ficam fiéis entre si até à morte dos dois. Mesmo que um dos dois venha a morer, o outro nunca mais buscará um companheiro. Não é bonitinho? Que coisa mais lindinha! Podia ser isso! Vai que um dos dois já fora casado, anteriormente? Não seria mesmo possível a união entre eles. Teriam, talvez, os dois sido casados em tempos anteriores? Afinal, os dois eram adultos quando chegaram ao nosso convívio. Não dava para saber. A única coisa que se sabia é que nenhum dos dois procurava aproximar-se do outro. Ignonoravam-se, mesmo.

Mas, as dúvidas sempre ficam. Pergunta daqui, pergunta dali, e, um dia, nova explicação. Eram araras de espécies diferentes. Realmente, a arara era vermelha e o Jô era azul. Mas eles têm preconceito disso? Bem, era como se se quisesse casar um cão pastor alemão com uma gata siamesa. Ou quase isso. Enfim... Vocês entenderam. Era impossível o casamento. Especies diferentes!

Agora já tínhamos duas boas razões para crer na impossibilidade de romance.

O Jô, infelizmente, depois de anos e anos de vida boêmia pelas árvores do sítio, inclusive praticando um esporte radical que ele adorava: ficar sob a chuva, tanto fazia se fosse um simples chuvisco ou uma tremenda tempestade de verão, adoeceu e morreu. Disse a veterinária que foi de pneumonia, em razão do excesso de chuvas que ele tomava. A arara, como já disse, está por lá, passeando, dando suas voltinhas nas árvores, ensaiando vôos. É uma verdadeira viuva alegre.

Mas, para terminar de falar sobre o Jô. Um dia, tivemos a terceira razão pela qual nunca daria certo o casamento entre eles. O Jô botou um ovo! O Jô não era Jô. Era Já!

Abração
JF

A propósito de Galos e Galinhas

Gentas e gentos.

Se existe um bicho burro, mas burro mesmo, o nome dele é galinha!

Tenho trauma de galinhas. Falo sério!

Talvez isso venha da infância. Imaginem ser filho de pais vindos do interior do estado, numa época que São Paulo, apesar de grande, era uma cidade... vamos dizer assim: um tanto provinciana. Isso lá pelos idos da década de 40. Não no início, lógico, que eu ainda não havia nascido, mas já para os anos 40 finais. É óbvio que no quintal de minha casa tinha um galinheiro. Aliás, naquela época, a maioria das casas tinha um galinheiro no fundo do quintal. Não se compravam ovos no supermercado. Nem existiam supermercados, ainda era a época dos "armazéns de secos e molhados". Os ovos vinham do fundo do quintal. E, de vez em quando, meu pai ia ao galinheiro, pegava uma galinha, torcia o pescoço dela e a deixava pendurada de cabeça para baixo, terminando de estrebuchar.

Nem sei o que significa estrebuchar, mas era como deixavam a galinha. Depois que terminava o estrebuchamento, davam um banho de água fervendo na galinha e retiravam suas penas (que eram guardadas para encher travesseiros). Depois disso, a galinha acabava aparecendo na mesa, já pronta para ir para o prato.

Hoje em dia é tudo mais simples. Vai-se ao supermercado e compra-se a galinha, que agora é chamada de frango, já prontinha para a panela. Não imagino como eu faria para estrangular uma galinha, pô-la para estrebuchar, dar-lhe banho de água fervendo e, ainda por cima, arrancar-lhe todas as penas.

Um dia, isso eu não lembro, apenas conto porque é história que corre na família, eu com uns três anos de idade, aprontei alguma coisa e minha mãe ameaçou de me fazer dormir com as galinhas.

Não sei se foi o complexo de culpa ou o quê. O fato é que, lá pelas tantas, deram por falta de mim.

"Onde foi parar o Zé?"

Quando foram olhar no quintal, lá estava eu no galinheiro, me preparando para dormir com as galinhas.

O fato é que, com tudo isso, agora, galinha, ao menos para mim, é só aquela vinda do supermercado. Digo isso, mas, lá no fundo, bem que tenho a idéia, de quando for morar no sítio, reativar o galinheiro. Com poucas galinhas, lógico, mas, isso é outra história.

Quando meus pais compraram o sítio, em 1970, as galinhas, lá, eram mais comuns que tico-tico. Como elas não ficavam presas, tinha galinha por tudo quanto era lado. Galinhas comuns, galinhas caipiras, garnizés. Chego quase a imaginar que era a totalidade da fauna itatibense, de tanto que tinha galinha. E elas botavam ovos prá tudo quanto era lado, para alegria geral dos gambás e outros animais, aí incluidos, evidentemente, os empregados do sítio. E era um tal de galinha aparecer com uma ninhada de dez, doze e até mais pintos. Era um verdadeiro escândalo! O drama é que minha mãe, depois de ter passado dezenas de anos com apenas um pequeno galinheiro no quintal, agora se via como a protetora universal das galinhas soltas e liberadas. Dizia que era ótimo para acabar com bichinhos. Até podia ser, pois em qualquer lado do sítio que a gente ia tinha multidões de galinhas ciscando pelo chão.

E os galos? De monte! Começavam a cantoria às três da madrugada. Debaixo da janela do nosso quarto. É por isso, inclusive, que a Nina odeia galinhas e galos (ainda não contei para ela que eu pretendo reativar o galinheiro, hehehehehe!, se bem que em quantidades educadas.).

Uma ocasião, levamos o Rackan ao sítio.

Antes de continuar, deixem-me falar quem era o Rackan.

Rackan era um cachorro pastor alemão. Ganhei de uma aluna. O filhote tinha sido desmamado aos vinte dias e trazido de uma fazenda de Bauru para São Paulo. Chegou mirrado, carregado de carrapatos e vermes. A Nina trabalhou muito bem para que ele pudesse sobreviver e se transformar num lindo pastor alemão "capa preta". A intenção era de levá-lo para o sítio. Mas, ele foi se criando no apartamento e nós não quisemos mais ficar longe dele. Dessa forma, Rackan foi um lindo cão pastor alemão "capa preta" de apartamento.

Agora, vocês imaginem um "partorzão" entrar num carro, saido de um apartamento na 9 de Julho, aqui em São Paulo, e descer em um sítio em Itatiba. Ele nem imaginava que pudesse existir tanto espaço!

Pois foi o Rackan descer do automovel e o que aparece bem na frente dele? Um galo! Lógico que ele não sabia que aquilo era um galo. Nem sabia que existiam galos. O máximo que ele conhecia, e corria atrás, eram alguns pardais que cismavam de aterrizar no terraço do apartamento. Um "pardal" daquele tamanho? Não! Isso tinha que ser investigado. E lá foi o Rackan, em desabalada carreira, atráz do "pardalzão" colorido. Obviamente, a curiosidade, se é que podemos chamar assim, era muito mais forte que nossos chamamentos imperiosos para que voltasse. Alguns minutos depois, o Rackan apareceu com o "pardalzão" pendurado, preso em sua boca pelo pescoço, já prontinho para receber o banho de água fervente e passar pela rotina do "despenamento".

Nem preciso dizer que minha mãe ficou uma "fera". hehehehehehehe! Mas, perdoou logo. A paixão dela por animais era imensa. Inclusive por cães pastores alemães curiosos.

Naquela época, em que os caminhos do sítio não tinham todo o calçamento que têm hoje, chovia demais (até o tempo mudou e já não é mais o mesmo!). Ao redor da casa ficava um tremendo lamaçal. Quando vinha o sol, a lama secava e formava enormes torrões de terra.

Num dos lados da casa, havia um barranco com diversas jabuticabeiras e algumas outras árvores que, naquela época, ainda eram relativamente baixas. Pois era nessas jabuticabeiras e árvores que as hordas de galinhas se empoleiravam, no final da tarde, protegidas pela ramagem espessa, para passar a noite. E era nessa hora que entrava em ação o Super X, o "terror das galinhas".

Super X, que a Luciana e o Adriano juram que era eu, garanto que não me lembro ao certo, chegava sorrateiramente, escolhia um grande torrão de terra no chão, e o atirava, com muita força, bem no meio da copa de uma das árvores. O torrão batia na árvore e como quê explodia, espalhando aquele monte de terra por entre as galinhas.

Gentas e gentos. Era engraçadíssimo ver aquele bando de galinhas assustadas, apavoradas e cacarejantes sairem esvoaçando por tudo que era lado da árvore. A Lu, o Adriano e eu caíamos na gargalhada... Eu não! O Super X, que eu seria incapaz de fazer uma maldade dessas.

A reação imediata à barulheira das galinhas era o aparecimento, em cena, de Dona Amélia.

"Que foi que aconteceu?"

"Sei não! Isso, na certa, é gambá querendo pegar as galinhas na árvore.

Realmente, galinha é um bicho muito burro! Mas eu ainda vou criar umas galinhas lá no sítio (não contem para a Nina que ela é capaz de querer cortar meu barato). Só que ficarão trancafiadas no galinheiro. E, se começarem a gritar e a voar esbaforidas, que ninguém me venha com a história de gambá. Vou querer saber, direitinho, quem é que está atirando bolotões de terra nas galinhas!

JF

quinta-feira, agosto 02, 2007

Cia. Estradas de Ferro Glória do JF

Gentas e gentos.

Depois de muito meditar, resolvi partilhar com vocês a possibilidade de participarem de um empreendimento de um alto grau de lucratividade. Pelos meus cálculos, de 40 a 50% de rendimentos AO MÊS! Não é venda de avestruz! Trata-se de um negócio com garantias de lucros, para ninguém botar defeito. É por o dinheiro agora e aguardar o início das atividades da empresa, que já lancei. Estou recebendo as importâncias que serão todas contabilizadas como "adiantamento para aquisição de Ações Preferenciais Nominativas" da Cia. Estradas de Ferro Glória do JF. O JF no nome da empresa se justifica: EU tive a idéia e EU serei o Presidente da Companhia. Naturalmente, deverá haver um pouco de paciência relativamente ao retorno do capital investido, sob a forma de dividendos mensais. Por enquanto, estou na fase de desenvolvimento do projeto e lançamento da Cia. E venda das ações (com o correspondente recebimento do dinheiro dos investidores). Depois disso, quando ocorrerem as condições favoráveis, será construída a ferrovia. Com o início das operações, haverá muito transporte de cargas e pessoas, o que, em "investimentês", significa: $$$$$$$$$$. Ou seja: lucros certos.

Vocês sabem que, no início, no planeta havia um único continente: Gondwana, ou algo assim. Com o passar dos tempos, os continentes se separaram e os mares foram invadindo os espaços abertos entre eles, formando os oceanos. A América do Sul destacou-se da costa africana e foi se afastando cada vez mais, até chegar à enorme distância que, hoje, separa esses continentes. Uma parte dos Oeceoclades maculata (*) ficou do lado de lá, já que eles não sabem nadar. Isso os impede de voltar.
Entretanto, fidedignas fontes, me garantiram que esse movimento de "afastamento" dos continentes não parou. NÃÃÃÕOOO!!! A América do Sul continua nesse processo de afastamento da África. A cada ano, alguns centímetros são acrescidos a essa distância que separa os continentes.
Entretanto, sabemos que nosso planeta é uma bola (ou, melhor dizendo, uma pêra, pois é mais achatado no pólo norte e mais pontudo no pólo sul). Se fosse simplesmente uma placa, como pensavam os antigos, haveria um momento em que a América chegaria à beira do precipício e cairia. Mas, como é redondo (ou pêrico), o que vai acontecer? Num determinado momento, lá no futuro, depois de cruzar o Oceano Pacífico, a América irá bater do outro lado de Gondwana. Ou seja: a América do Norte irá trombar com o Japão, Filipinas, China. A América do Sul irá bater na Austrália. Certo???? Certíssimo!!!!! Como 2 e 2 são 22!

E foi aí que me chegou a brilhante idéia. Vocês já imaginaram uma estrada de ferro ligando Rio de Janeiro a Sidney? Não???? Pois eu já imaginei! Sensacional!!! E foi assim que pensei na construção dessa estrada de ferro intercontinental. O custo não será muito alto, já que, nessa ocasião, o mar terá desaparecido, encurtando a distância em muitos milhares de quilômetros. E resolvi colocar todos vocês como meus sócios nesse empreendimento maravilhoso, de grande envergadura, e, sobretudo, de lucro certo! Tão logo os continentes se encontrem, começaremos as obras da construção. Mas, as ações preferenciais nominativas, sem direito de voto mas com garantia de recebimento de dividendos, já estão sendo lançadas, para que possamos pagar as despesas com registros, patentes, projetos, etc.

Assim, estou lançando no mercado lotes de ações da nova empresa:

1.000.000 de ações PN, a R$1,00 por ação, no lançamento, com deságio, estão sendo ofertadas por RR$100.000,00. Um grande negócio. Ninguém pode perder! Deságio de 90%! Quando a estrada de ferro entrar em funcionamento, valerão, nas Bolsas de Valores do mundo todo, pelo menosR$2.000.000,00;

É barato! Mas, vocês estão descapitalizados? Não tem problema. A satisfação dos sócios está em primeiro lugar. Não esqueçam que esta é, autenticamente, uma ação entre amigos:

1.000.000 de ações PN, a R$1,00, cada uma, por R$ 10.000,00. Não existe negócio com melhores perspectivas. Pensem bem!

Não dá? Ainda está pesado? Tá legal! Tá legal! Faço o mesmo lote de ações PN por R$ 1.000,00.

Mesmo assim, vocês ainda não têm disponibilidades? Que tal R$ 100,00? R$ 10,00?

Cês são duros, mesmo, hein? Tá bom! R$ 1,00 pelo lote de 1.000.000 de ações PN da Cia. Estradas de Ferro Glória do JF.

Nããããããooooo??????? Por isso que odeio pobre! Ceis nunca têm dinheiro!

Azar de vocês. Vou lucrar sozinho

JF

Em tempo: gentes, eu aceito o pagamento em vale transporte, vale-refeição, vale do fome-zero...

(*) Oeceoclades maculata – espécie de orquídea terrestre encontrada no continente americano, desde a Argentina até o sul dos Estados Unidos, e, também, na África.

Publicado, originalmente, na lista NESO de discussão (Yahoo), 01/12/2005.