segunda-feira, dezembro 31, 2012

UM CONTO DE FIM DE ANO

OS AMELIOS

De tardezinha, a Amelia, mocinha ainda muito novinha, ia depositar o dinheiro da féria do armazém de meu avô lá no Banco de São Paulo S/A, na Avenida São Carlos. Se o italiano soubesse o que se passava no banco... Mamma mia!!!...


No banco, tinha um caixa, novinho, mas bem jeitosinho, que logo botou os olhos na Amélia. E a Amélia, lógico, bem que gostou da história. E a paquera muda continuou por muito tempo. Naquela época não era como hoje. Hoje, na hora, o rapaz chega na garota, nem pergunta o nome, e já vai dizendo: "E aí, mina! Van'ficá?" Isso, se "mina" já não for gíria de passado muito remoto, pois eu não consigo mais acompanhar o desenvolvimento da juventude. Agora, logo ao primeiro olhar, se o rapaz não fala nada, é a própria garota que o convida para "ficar". E ela, também, se esquece de perguntar o nome dele. Hoje em dia, entretanto, esse detalhe parece não ser muito importante.

Mas, naquela época diferente, a troca de olhares lânguidos durava meses! Um dia, ele se encheu de coragem e foi falar com ela. Mas a coragem só dava para isso: falar com ela! Para começar a namorar precisava de muita, muita coragem a mais! Mas a coisa toda estava bem encaminhada. E eu sou uma das provas de que, no final, deu tudo deu certo! Eu nasci, não é mesmo?

Porém, quando os dois se apresentaram, ela entendeu o nome dele errado: Américo. A partir disso, era Amélia e Américo. Até o dia em que ele se armou de coragem, mais uma vez, e disse a ela que não era Américo. O nome dele era Amélio! Aí, ela se espantou: "Mas eu achava que eu era a única pessoa com esse nome!" Não deu outra: casaram-se, em 1939, depois de vários anos de namoro e noivado, também costume, na época.

O primeiro filho, eu, demorou um pouco. Eu nasci na virada do ano, em 1º de janeiro de 1942. Existem algumas tentativas de explicação para essa data. Alguns dizem que minha mãe tomou um susto com o estouro de fogos de artifício que comemoravam o novo ano, e... eu nasci. Às seis e cinco do dia primeiro.

Outros já tem uma versão diferente, minha preferida. Naquela época, começando às 23,45 horas, nós tínhamos, aqui em São Paulo, a famosa Corrida Internacional de São Silvestre. Vinham atletas do mundo todo disputar a prova, que se prolongava até os primeiros minutos do novo ano. Era uma coisa tradicional (que a Rede Globo sepultou, transferindo a corrida para o dia 31, à tarde, em benefício de seus programas de finais de ano, com suas Xuxas e Faustões da vida!). Todos comemoravam a entrada do ano novo, acompanhando, pelo rádio, a corrida de São Silvestre. Lógico que todos torciam pelos atletas brasileiros, mas estes... só foram ganhar, pela primeira vez, já nos anos setenta. E, na virada de ano 1941/1942, mais uma vez, o Brasil perdeu a prova. Aí, para compensar, dando uma imensa alegria a todo o povo brasileiro, eu nasci. Modéstia à parte!

Naquela época (quanta diferença!), só se sabia se era menino ou menina quando a criança nascia. Quando muito, faziam a tal simpatia da agulha para tentar saber o sexo. Mas, a agulha também não entendia muito do assunto. E eu nasci menino! Não tenho nada contra as mulheres! Muito pelo contrário! Mas, não me arrependo de ter nascido menino. A Nina também é favorável ao fato de eu ter nascido menino.

Depois do nascimento, começavam os palpites: "Vai chamar-se Antonio", "Eu prefiro Alfredo!", "Vocês estão doidos? O nome é AMÉLIO! AMÉLIO Junior!". Eu, lá no meu bercinho, vendo toda aquela discussão entre tios, tias, avós, comadres... E já imaginando horrorizado: "Vou ficar conhecido como Amelinho!!! Essa não!" Me dava tal desespero que logo começava a chorar. Aí, minha mãe terminava com a discussão: "Todo mundo prá fora! Ele está com fome e precisa mamar!" E, para sorte minha, meus pais decidiram que eu teria um nome diferente.

Eu escapei do Amélio. Minha irmã, não! Ela pegou o nome Amélia. Só que, como era costume na época, acrescido de um Maria: Maria Amélia! Até que ficou bonito. Eu acho!

Mas, a história nada tem a ver com minha irmã. Voltemos, pois, a dois anos e alguns meses antes de ela nascer. O meu nome! E meus pais resolveram, para o primeiro filho, homenagear meus avós paternos: Francesco e Giuseppina Catharina. Porém, de forma aportuguesada, lógico: Francisco e Catarina.

Novamente, fiquei apavorado com aquela conversa de nomes: "Como irão me chamar?" E, na minha imaginação muito nova, pós-parto, pensei em uma combinação de nomes que me apavorou. Só não fiquei de cabelos em pé, porque nasci careca (acho!). No meu raciocínio, eu não percebia como iriam homenagear minha avó, que só tinha nomes femininos: Josefina Catarina. Eles não seriam tão doidos de darem a mim, um legítimo homenzinho, o nome de Catarina! Ou Josefina! Pensando bem, meu nome nem poderia terminar com a letra "a". O que meus coleguinhas iriam comentar de mim, na escola, embora isso ainda fosse um problema longínquo? E continuei matutando: Francisco Josefina? Nem pensar! Francisco Catarina? Nem sei qual o pior! Aí, no meu raciocínio de recém nascido, pensei: e se eles pegam uma parte do nome do meu avo e outra parte do nome de minha avó e formam um nome novo? Poderia dar certo, desde que a parte do nome de minha avó viesse primeiro, para evitar a terminação em "a" do nome novo. E eu pensei: pega-se uma parte do nome de minha avó: Cata, de Catarina. E, uma parte do nome de meu avô: Cisco, de Francisco. Juntando-se as duas partes, deve ficar original e bonito: Catacisco! Catacisco??? Não!!! Pode esquecer.

Nessa altura, virei para o outro lado e adormeci. Enquanto dormia, sem minha participação, meus pais resolveram meu nome: masculinizaram o nome de minha avó e acrescentaram o nome de meu avô. E foi assim que eu fiquei José Francisco. Muito prazer!

(publicado na lista NESO, de discussão pelo Yahoo, aos 04/06/2005 e, neste blogue aos 08/07/2007)

Na foto de 1935,  os Amélios namorando na praça, em São Carlos/SP.

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A BICHARADA, NO SÍTIO

Como vocês já devem ter notado, gosto muito orquídeas. Além delas, também gosto de cultivar bromélias, cactos, árvores... plantas em geral. Lógico que também gosto muito de animais. Tenho o maior respeito por eles. Desde que não sejam ratos! E nem carrapatos! E nem pernilongos! E nem... esses insetos todos que perturbam a gente. Admiro os urubus, os morcegos, as corujas, e todos esses animais que, injustamente, por falta de maior conhecimento, algumas pessoas lhes atribuem qualidades negativas, agourentas. E respeito as cobras. Só que fico longe delas.  Na foto de hoje, apresento para vocês uma jararaca toda enrolada, em um vaso de uma cactácea, à espera de algum passarinho que ali fosse atrás de insetos. É por isso que tomo muito cuidado quando mexo em meus vasos. 

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É isso, pessoal.

A todos vocês e às suas famílias, desejo um 2013 muito feliz.

Até o próximo ano e um abração.
JF

segunda-feira, dezembro 24, 2012

O PRIMEIRO NATAL DO PAPAI PAULO NOEL


Não. Não é o Papai Noel que vocês pensam. Esta é a história do Papai Paulo Noel.

Tudo se iniciou ainda no início dos anos setenta, quando as crianças eram bem pequenas. Naquela época, ainda na casa velha, Paulo, meu cunhado, resolveu vestir-se de Papai Noel e fazer a distribuição dos presentes, na passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro. Não esqueço a expressão das crianças ao verem chegar o bom velhinho. Foi uma emoção tão grande, para todos, que acabou virando uma tradição, aqui no sítio. Todos os anos o Paulo veste-se de Papai Noel, para alegria das crianças, agora os netos, dos adultos que eram as crianças da época, e dos adultos que já o eram então. 

Neste ano, pela primeira vez, minha mãe não mais estará fisicamente se divertindo com a brincadeira. Mas, lá do céu, com muita ternura, certamente ela estará acompanhando e abençoando tudo e todos.

No início, o Paulo precisava de travesseiros dentro da roupa, imitando a barriga do Papai Noel. Mas, nem sempre foi assim, Anos houve em que o travesseiro tornou-se dispensável. Com ou sem travesseiro, entretanto, é o mais perfeito e alegre Papai Noel que se possa imaginar.

Mas, vamos ao primeiro Natal do Papai Paulo Noel.

Como eu disse, ainda era nos tempos da casa velha. Hoje, está tudo muito diferente, tudo calçado em volta dessa e das outras casas que se construíram no sítio. Mas, naquele tempo, era tudo terra. Não tínhamos os caminhos calçados, como hoje. E como chovia, naquele tempo! E, com a chuva, ao redor da casa, formava-se um lamaçal.

Lá pelas onze da noite, família toda reunida na sala à espera do Papai Noel, o nosso Noel tupiniquim sai pela porta dos fundos, às escondidas, para dar a volta e chegar de forma triunfal e inesperada, ao menos para as crianças, pela porta da frente da casa.

Mas, chovia. E como chovia! Papai Paulo Noel precisou sair de casa segurando um guarda-chuva com uma mão, enquanto a outra mão segurava o saco de presentes pousado em suas costas.

Além da chuva, ainda havia o problema de precisar andar no meio da lama. Nada que um bom par de botas não resolvesse, embora elas ficassem imundas.

E lá se foi Papai Paulo Noel, intrépida e garbosamente, sob chuva e em meio à lama, a caminho da porta da frente da casa.

Porém, um perigo esperava o bom velhinho, do lado de fora da casa. Os cães ladradores: o Toy e o Perigo. Nomes bem sugestivos para dois autênticos "vira-latas", não é mesmo? O Paulo bem que havia lembrado deles, mas eram dois cães mansos e não iriam representar qualquer problema. Assim deveria ser se os cachorros soubessem que não deveriam representar nenhum problema! Mas, não sabiam. E que reação vocês imaginam que podem ter dois cachorros, numa noite de chuva, escura, ao se depararem com um estranho balão vermelho amassando barro e avançando em meio à chuva? Lógico! É isso aí. Apesar de não serem touros, avançaram latindo para cima do atônito Papai Noel carmesim que, nessas alturas, não sabia se saia correndo largando o saco de presentes no meio da lama, se voltava para dentro de casa pela porta dos fundos, se chamava a polícia... Por sorte, o pavor infundido aos cães foi maior que a coragem deles. Chegaram perto mas não avançaram o sinal. Com isso, Papai Paulo Noel, todo molhado e enlameado, pode fazer sua triunfal entrada na sala, para alegria geral.

Depois da entrega dos presentes, tempo suficiente para que a chuva praticamente parasse de cair, e presos os cachorros "devoradores" de papais noeis, Papai Paulo Noel foi até à casa dos caseiros entregar seus presentes. Logicamente, eles não estavam sabendo daquela inesperada visita, à meia noite da noite de Natal.

A casa estava fechada, mas havia luzes na sala. O Paulo bateu. Depois de alguns instantes, uma voz vinda do lado de dentro perguntou:

"Quem é?"

Ora, quem poderia ser? O Paulo respondeu:

"É o Papai Noel!"

O caseiro, ao que parece, duvidou. Mas abriu para conferir.

Gente do céu! O caseiro já havia, digamos assim, tomado todas as que tinha direito e mais as que não tinha direito, também. Melhor explicando: estava completamente "de fogo". E vocês sabem que pessoas nesse estado demoram muito a compreender o que está acontecendo. Muitas vezes, não chegam a compreender nunca. O espanto dele ao abrir a porta e dar de cara com Papai Noel foi uma coisa inenarrável. Com certeza, se não acreditava, a partir daquele momento passou a acreditar na existência do bom velhinho.

Algum tempo depois, ele saiu do sítio e nunca mais tivemos notícias dele. Mesmo assim, estou para dizer que ele acredita em Papai Noel até hoje. E, nas rodas de botequim, entre uma pinga e outra, ele deve dizer aos amigos:

"Papai Noel existe. Eu juro! Meninos, eu vi com estes olhos que a terra há de comer."

(republicação de texto original de 26/12/2007, neste blogue)

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A bicharada que aparece aqui no sítio, como se diria antigamente,  "não está no gibi". Seguindo o conselho de minha amiga Apolônia, lá de Alta Floresta/MT, a máquina fotográfica está sempre a postos.  E, assim como ela, vou fotografando o que aparece. Verdade que não tenho, como ela, jacarés na porta da cozinha. E nem  jiboias soltas fazendo o papel de cães de guarda.  Mas, me contento com o que temos por aqui e, algumas vezes, acontecem supresas. Como esse sagui albino que consegui fotografar em uma árvore bem aqui na frente da janela do meu escritório. O bichinho tem dificuldade de visão. Assim, às vezes, ao pular de um galho para outro acaba caindo no chão. E foi essa dificuldade que fez com que eu conseguisse me aproximar bem e fotografá-lo.

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Feliz Natal a todos os amigos e seus familiares. E um 2013 com muita paz, saúde, realizações. E que vocês consigam ganhar a megasena acumulada. São os nossos votos.

Nina e JF. E mais a Lu, o Vagner, a Juliana e a Vanessa, o Adriano e a Fabi. E o Eddie Wood (Ed para os íntimos), lógico.

Atá à próxima.


segunda-feira, dezembro 17, 2012

PIRRALHINHA



Ele tornou-se amigo de seu irmão e freqüentavam as mesmas festinhas. O irmão a levava, mas ele, até agora, não lembra exatamente de quando se conheceram. Pudera, ele já tinha 20 anos e ela era uma pirralhinha de 14 anos, falante, barulhenta, mal saída de sua infância.

Ele estava de olho na gata de olhos verdes, pouca coisa mais nova, mas da mesma idade. E saiu o namoro. Brigas e mais brigas que levaram ao rompimento definitivo, depois de quatro meses. Foi sorte! Se tivessem continuado, hoje um estaria na prisão e o outro coberto por sete palmos de terra, no cemitério. Sem que se saiba exatamente quem estaria onde.

Por sua vez, ela começou um namoro com outro amigo do mesmo grupo, namoro esse logo interrompido.

E o tempo foi passando, eles se vendo nas reuniões da turminha, todos os finais de semana. E batendo papo. Na verdade, ela, a extrovertida, falando e ele, o tímido introspectivo, escutando.  À medida em que iam se conhecendo melhor, já não viam a hora da chegada dos finais de semana para se  verem e conversarem.

Aí, aconteceu. 1964, 14 de dezembro. Ele telefonou:

“Você quer namorar comigo?”

“Se quero!!!”

Na última 6ª feira (14), eles completaram 48 anos de namoro. Lógico que, durante esse tempo, casaram, tiveram dois filhos, têm duas netas, sem esquecer os quatro cachorros: Chinita, Belle, Rakam (O Terrivel) e o atual Eddie Wood (Ed, para os íntimos) . Brigas? Lógico! Porém, nunca levantaram a voz um para o outro. Nunca se chamaram de bobo (a) ou qualquer coisa um pouco mais séria. Sempre muito respeito e carinho. É por isso que Franjinha e Cebolinha seguem namorando ainda por muito tempo. 

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MAMÃE SABIÁ


Maria Rita é uma amiga muito querida que mora no Rio de Janeiro e tem sua casa de campo em Paty do Alferes/RJ. É em Paty que cultiva suas orquídeas e todas as outras plantas. Além das plantas, Maria Rita gosta de fotografar: viagens, momentos, tudo! E está tudo lá no seu cantinho
     http://www.flickr.com/photos/29270995@N05/

Na foto ao lado, feita pela Maria Rita lá em Paty, Mamãe Sabiá posa, enquanto choca seus ovinhos.


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Nesses próximos dias, família toda começa a chegar ao sítio para Natal e Ano Novo. Mais uma vez, reunião com muita alegria, muita paz e muita música. Se alguém quiser ver o "Família Jacaré" cantando, é só aparecer.

Um feliz Natal e um ótimo 2013 para todos.

Abração,
JF