quinta-feira, fevereiro 27, 2014

QUARTA FEIRA DE CINZAS... E ELA SE FOI


Minha mãe foi uma mulher de verdade, tanto que seu nome era Amélia. Nunca foi daquelas mães melosas, mas me amava muito. De temperamento forte, brava nas horas certas, justa sempre, sabia ser alegre com todos. 

A minha Nina era tão amada por ela que várias vezes chegou a me dizer: “se um dia vocês se separarem, quem vem morar comigo é ela!”. Lógico que era brincadeira, mas não deixava de ser, também, uma advertência.

Minha mãe, nascida lá na São Carlos/SP de 1917, gostava de animais. Todos os animais. Protegia qualquer tipo de animal: aranhas, sapos, cachorros, gatos, galinhas, pássaros, tatus, todos. E tinha uma ligação tão grande com eles que chegava ao lado das colméias sem que as abelhas lhe fizessem qualquer coisa. Quando os netos estavam no sítio, à noite, ela saia para o gramado da frente da casa e abria os braços. Pouco depois, algum vagalume vinha e pousava em uma das mãos espalmadas. Ela, então, o levava para dentro e mostrava aos netos. Satisfeitas as curiosidades, ela o levava para fora e o soltava.

Quando ia do sítio, em Itatiba, para o apartamento de São Paulo, ela levava a bicharada junto: a cachorrinha Cherry, as ninhadas de pintinhos que ela achava pelo sítio (para ela, as galinhas tinham de viver soltas e não no galinheiro), o pássaro preto, que, apesar de viver solto, não se afastava e viajava para São Paulo no ombro dela, e mais algum outro que, eventualmente, aparecesse por ali. Depois, trazia todos de volta.

Certa vez, a Nina contou para ela que uma mulher havia me paquerado no hipermercado. A partir disso, cada vez que estava em São Paulo e sabia que íamos fazer a “compra do mês”, ela se oferecia para ir junto, pois precisava comprar alguma coisinha. Nina e eu sempre fomos muito metódicos nessas compras. Cada qual pegava um carrinho e partia para a compra dos produtos em que era especializado. Assim, nos afastávamos um do outro mas as compras eram feitas mais rapidamente e de forma bastante eficiente. Minha mãe ficava sempre comigo. Não dava palpites nas minhas escolhas e acabava não comprando nada pra ela. Mas, ficava atenta tomando conta do filhinho para a norinha.

Desde muito cedo me incentivou o amor pelas plantas. Lembro-me, ainda muito criança, plantando mudinhas de plantas em latinhas vazias, sempre com o apoio dela.

Minha mãe tinha um gênio forte. E ai de quem fizesse alguma coisa que ela julgasse errada. Esse alguém sofreria. E como era mandona! Mas, nunca se meteu na vida dos filhos casados, da nora, do genro. Às vezes, entre ela, mandona, e meu pai, teimoso, saiam algumas discussões homéricas. Porém, pouco depois, lá estavam os dois sentados assistindo TV, lado a lado e de mãos dadas.  

Minha mãe era muito alegre e gostava de estar no meio de pessoas. Minhas irmãs e eu, na época de solteiros, gostávamos de reunir amigos, em casa. Além de nunca reclamar e de, sempre, ajudar a preparar as coisas, ela amava ficar conversando com todos. E, depois de casados, as churrascadas aqui no sítio, tanto as organizadas por nós como as de minha irmã e meu cunhado, sempre tiveram o total apoio e colaboração dela. E sempre contaram com sua presença em meio aos convidados.

No dia 20 de fevereiro de 2007, uma terça feira de carnaval, meu sobrinho promoveu um churrasco para os amigos, aqui no sítio. Para alegria dela, que passou o dia no meio da garotada conversando com todos. Apesar das diferenças de idades, ela iria completar os 90 anos em um mês, sabia ter conversa agradável e todos gostavam de tê-la em seu meio. Pode-se dizer que era presença obrigatória. Foi um dia perfeito, bastante alegre. Já na madrugada do dia 21, ela acordou com sua costumeira falta de ar causada pela bronquite e levantou-se para preparar uma inalação, como sempre fazia. Ao sair do quarto, apagou. Foi-se embora na quarta feira de cinzas...

Mãe, eu ainda a amo e continuarei amando sempre. Um dia nos reencontraremos.
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15ª. Exposição Nacional de Orquídeas de Vinhedo-SP

Oi, pessoal. Passado um ano, chegamos à nossa exposição de orquídeas de 2014. Aí vão os dados.

Entidade promotora – Clube Amigos da Orquídea-CAO Viva – Vinhedo-SP

Apoio – Coordenadoria das Associações Orquidófilas do Brasil-CAOB e Prefeitura do Município de Vinhedo

Datas 11 a 13 de abril de 2014 – entrada franca

Local Parque Municipal Jayme Ferragut (parque da Festa da Uva), bem na entrada da cidade de Vinhedo, para quem vem pela Via Anhanguera (altura do Km 75). Estacionamento gratuito dentro do Parque.

Horários
Dia 11
   Entrega das plantas – das 7 às 13 hs
   Julgamento – das 13,30 às 18 hs
   Inauguração solene – 20hs
   Abertura ao público – das 9 às 18 horas (exclusivamente no setor de vendas)
Dia 12
   Aberta ao público - das 9 às 18 hs
   Palestras sobre cultivo - às 10 e às 15 hs
Dia 13
   Aberta ao público - das 9 às 17 hs
   Palestra sobre cultivo - 10 hs
   Premiação aos vencedores - 15 horas
   Encerramento - 17 horas

São aguardadas mais de 30 associações amadoras expondo cerca de 1.300 plantas selecionadas de colecionadores. Para o setor de vendas, foram convidados 6 orquidários profissionais, além de vendedores de insumos para o cultivo, de livros e revistas especializados, de camisetas alusivas. Estarão à venda milhares de plantas de inúmeras espécies e variedades diferentes.

Todos são convidados. Estarei lá durante os três dias, aguardando por todos vocês.
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A foto de minha mãe junto às suas azaleias foi feita pela minha amiga Apolonia Grade, de Alta Floresta-MT, quando nos visitou, em junho de 2005.

Abração a todos e até à próxima postagem.

JF

17 comentários:

Ana Carla disse...

Que texto emocionante! Quanto amor! Que cinza foi sua quarta-feira!

maray disse...

As mães quando se vão deixam um buraco grande. A minha também foi de mansinho, e mesmo a gente não sendo tão próxima, eu sempre tive mais afinidade com o pai, ainda senti demais a ausência. Que só vai passando e cicatrizando assim como vc fez: lembrando dela nas coisas que a gente aprendeu, que a gente gosta e faz sem as vezes nem saber porquê. Um dia ainda vou ver uma exposição de orquídeas! Estou de mudança de casa agora mas vou me agenda. Sucesso e abração!

Nina Maria disse...

Como ela ria quando eu dizia" A senhora é uma droga de sogra!" e ela, já prevendo a minha resposta, ficava na expectativa para ouvir eu dizer:"Pois, é todo mundo pode se queixar da sogra, só eu que não!
Sogra tão querida, cuja presença permanece conosco, nas plantas e animais que tão amava.

Rosamaria disse...

Emocionante teu post, J.F.! A tua mãe era uma querida e bem poucas sogras são como ela foi.
Gostei de "ver" que ela te cuidava no super, hehehe.
Lembrei da minha que já se foi há doze anos e um dia ainda faço um post sobre ela, até agora só fiz homenagens.

Como vai tua família? E o Ed Wood?

Sucesso na exposição, depois nos mostra.
Bjim pra ti e pra Nina, que deve ser ótima como a sogra.

Marli Soares Borges disse...

Adorei o teu texto, um relato muito carinhoso para D. Amélia. Sabes, minha mãe ainda é viva, tem 82 e vai muito bem de saúde. Ela e o meu pai, 89. Fui criada por meus avós, por isso, nas minhas visitas ao passado, sempre aparece minha avó ou avô protagonizando. Estou aqui agora, para agradecer teu comentário sobre as "urucubacas", palavra que utilizei para dar leveza ao texto. Obrigada por prestigiar minha postagem. Mas, na verdade escrevo mais esse comment, porque, por coincidência, minha vozinha também fez a sua passagem no amanhecer da quarta feira de cinzas. Incrível, né? Como as histórias se assemelham. Mas minha avó, partiu muito cedo, aos 74. Até hoje "não me conformo". Bjs Marli

Mimirabolante disse...

Lindo o texto !
Amigo , estava viajando e voltei hoje,vi sua presença e vim correndo retribuir.
Mil beijocas e muita Paz no seu coração!!!!

Edna Lima disse...

Obrigada pela carinho da visita.Que belo seu amor pela sua mãe.Nem é assim para muitos.
Quanto mais o tempo passa, mais minha identidade renasce o meu amor por Minas.Sempre dou Jeito de recordar.E´aqui no blog onde mais posso mostrar isto.Embora já esteja misturado ao de outras regiões do país.Já me mudei algumas vezes.
O sotaque Mineiro é o mais lindo pois é o meu de origem, mas respeito todos os outros pois de onde eles começam é um caso à parte.
Já que o Ano começa depois do carnaval; um feliz 2014 pra ti. Abraços. Edna.

Luma Rosa disse...

Oi, J.F.!
Um dia ainda vou em uma exposição sua! :)
Que linda a sua mãe! Muito bom quando nora e sogra se dão bem, eu também era assim com a minha sogra. E achei lindo ela proteger o seu casamento!
Sua mãe se parece com a minha na personalidade, no entanto, ela não gostava de bicho. Quando eu tinha os meus animaizinhos domésticos, ela ajudava a cuidar muito contrariada. Mas era porque tinha mania de limpeza e morria de medo de doenças transmitidas por bichos! (rs*)
Onde sua mãe estiver, ela pensa com satisfação na família que zela lá de cima!
Beijus,

Edna Lima disse...

Querido amigo passei lá no blog da sua amiga sobre o sotaque mineiro mas realmente está parado não encontrei nem a opção de segui-lo.
Qualquer hora passo novamente.
ótimo final de semana .Abraços . Edna.

Claudinha ੴ disse...

Bela lembrança e homenagem JF!
E estas lembranças são eternas, porque amor de mãe e pela mãe é assim...
Abrações a todos aí!

Anônimo disse...

bastante legal.
abraço
Augusto Köpp

Luciana L V Farias disse...

A Vó realmente nunca foi "melosa", mas sempre mostrou o quanto nos amava com seus pequenos gestos, como catar manga coquinho para a gente chupar na piscina, ou os ovos não galados das d'angolinhas.

Faltou contar uma coisa: que a Vó Amélia sempre aumentava a idade, ela sempre estava no ano que ia fazer. Só tinha a idade real no dia de seu aniversário, no seguinte já era "quase a idade seguinte". A Vó Amélia estava com "quase 90" desde os 88, e até nisso Deus foi poético na hora de levá-la: não só lhe deu um dia perfeito, como ainda se foi aumentando a idade, como sempre.

Apesar das saudades, minha felicidade é que ela pôde aproveitar demais o Vagner e as bisnetas, tanto que todos eles até hoje também sentem muito a sua falta.

Beijão!

Shirley Brunelli disse...

Oi,JF, você descreveu sua mãezinha ou São Francisco de Assis? Que maravilha, ela e a vivência com os animais. Também eu os amo.
Você escreve muito bem, parabéns!
Abraços!

Unknown disse...

Você descreveu sua mãe ou a minha? Ou a Nina, A Lú ou eu mesma? Mãe é tudo igual. Nem o endereço é diferentew pois todas moram na Casa da Mamãe.Que bom estar aqui.Um abraço! Maith

Magui disse...

Lindo texto.Quem se dá bem com os animais é um iluminado.Para mim é um sintoma importante.Fujo se quem não gosta de animais.
E, vejo nos comentários que vc tem o privilégio de eceber a visita da Maith. Não mereço essa glória.

J.F. disse...

Oi, pessoal. Desta vez, não respondi às mensagens individualmente, mas me sensibilizei com todas as mensagens comentando a postagem. Obrigado a todos. Minha mãe foi uma figura marcante para todos os que a conheceram. Ontem, dia 26 de março, se estivesse viva, estaria completando 97 anos de idade, para alegria de filhos, nora, genro, netos, bisnetos e, principalmente, para alegria de meu pai, que mora comigo e a Nina, e que, em julho, completará 99 anos.
Abração.

Maze Oliver disse...

Que linda homenagem amigo! Bacana mesmo. Saudades de você, fica bem!