Dia desses, recebi um arquivo com a música “Comida de Pensão”, de Francisco Balbi e Miguel Miranda, numa interpretação inesquecível de Ivon Curi.
O Ivon, para aqueles que só o conheceram como um dos personagens das mil e uma escolinhas malucas apresentadas como programas cômicos da televisão, foi um grande cantor de rádio, ainda na época em que o Chateaubriand não havia dado à luz a TV brasileira. E, depois da luz, também um grande cantor na TV.
Mas, a música conta a história de um rapaz que morava em uma pensão, onde eram servidos apenas pratos à base de feijão. O próprio aperitivo não fugia à regra: batida de feijão. Sobremesa? Doce de feijão! O coitado já não agüentava mais tanto feijão.
Isso me fez voltar aos tempos de juventude, lá pelos anos de... nem lembro mais!
Meus pais, embora morando em São Paulo, eram originários do interior do estado, de uma época em que as estradas eram precárias, não existiam linhas regulares de ônibus, e assim por diante. Estou até para dizer que a força das locomotivas não era avaliada em “cavalos-vapor” mas em “burros-que-puxam”. Mas, não vem ao caso. Foi apenas para situar os dois no tempo, no espaço, nos gostos e nos costumes. Ou seja: de uma época em que as casas tinham quintais com muitas plantas, árvores, verduras, e até galinhas e perus. E, os dois vindo para a capital, com o correr dos anos, à medida em que as condições permitiam, mudavam sempre para casas com quintais cada vez maiores e, assim, cada vez com mais plantas e bichos.
A casa do Itaim, num terreno de 1.200 m2, tinha um quintal imenso. Nesse quintal, além das outras frutíferas que eles plantaram, já existiam três jabuticabeiras e uma enorme ameixeira.
É lógico que eu herdei a parte genética dos dois no que diz respeito a gostar muito de plantas. E foi assim que, em certa ocasião, plantei um chuchu que estava brotando.
Gente! Vocês precisam ver como um chuchuzeiro cresce rápido. Não demorou muito e a planta tomou conta da copa da ameixeira. A quantidade de chuchus, tenho a impressão, seria suficiente para abastecer toda a rede Pão de Açúcar, se meus pais resolvessem vender a safra. Mas, os chuchus não eram vendidos. Os chuchus eram consumidos em casa mesmo! Vocês não imaginam como minha mãe era criativa, quando se tratava de utilizar os chuchus para o almoço e para o jantar. Era chuchu de todas as formas possíveis. Como na música “Comida de Pensão”.
No começo, fiquei muito orgulhoso por ter tido a idéia de plantar aquele maravilhoso pé de chuchu que, se totalmente estendido e colocado em uma posição vertical, certamente chegaria às nuvens e à casa do gigante. Poderíamos então, se isso tivesse sido feito, ter a historia “JF e o pé de chuchu”.
Mas, os dias foram passando, minha mãe sempre preparando os pratos à base de chuchu, e nada do chuchuzeiro maluco parar de produzir chuchus. Meus pais adoravam comer chuchus. Minhas irmãs e eu já não agüentávamos mais. Como na música, se ficássemos intoxicados com os chuchus, possivelmente minha mãe nos curasse com boas doses de chá de chuchu.
Lembro-me até que, nós três, parodiando o Ivon Curi, cantávamos:
“Chuchu, chuchu, chuchu.
Era só chuchu, chuchu...”
Chegou num ponto que eu precisava tomar uma atitude. Não era mais possível. A casa já não comportava os dois juntos. Um tinha de ir embora. Como eu ainda não estava no ponto para me casar, sobrou para o pé de chuchu.
Um dia, meus pais estando em viagem, cortei o chuchuzeiro bem rente à terra. Em seguida, enterrei a ponta da planta cortada de tal forma que ninguém percebesse nada.
Quando meus pais voltaram, minha mãe estranhou muito que uma planta tão viçosa murchasse em tão pouco tempo. Possivelmente, tentava explicar, a produção excessiva tinha matado a planta. Totalmente pesaroso com o “desastre”, concordei com ela. Só podia ser isso. Produziu tanto chuchu que consumiu todas as forças da planta. Uma judiação!
Em poucos dias a planta estava morta, seca, os chuchus acabados, assim como acabados estavam os pratos preparados à base de chuchu. Retirei toda a ramagem seca que cobria a ameixeira e, em pouco tempo, a história do pé de chuchu que dava chuchu “prá chuchu” acabou quase que esquecida.
Quase porque, uns trinta anos depois, meus pais já morando no sítio, minha mãe, não sei por que cargas d’água, lembrou-se do chuchuzeiro e de sua morte repentina. Foi nessa hora que contei a ela a forma como havia morrido a planta. Felizmente ela estava de bom humor e a história rendeu muita risada.
Não sei a razão, mas, hoje em dia, aqui no sítio, não tenho nenhum sucesso no plantio de chuchus, ao contrário do que acontece com outras plantas, principalmente as ameixeiras. Na última tentativa, por exemplo, o chuchuzeiro até que se desenvolveu, mas os macacos acabaram comendo todos os chuchus, ainda antes de chegarem ao ponto de serem colhidos (colhidos os chuchus e não os macacos!).
Por outro lado, as ameixeiras produzem muito. E, se algum caroço cai na terra, logo está brotando nova ameixeira.
Coincidência? Acho que não. Sei que é um tanto difícil de acreditar, pois eu mesmo fico em dúvida. Mas, no dia em que cortei o pé de chuchu, tenho quase que certeza de ter ouvido a ameixeira dizer:
“Obrigada, amigão! Não agüentava mais esse chato me deixando sem ar e sem sol!”
FAMILIA JACARÉ EM AÇÃO
No próximo sábado (28), o grupo "Família Jacaré" (nós, modéstia à parte) estará em São Paulo cantando em um Sarau entre amigos.
E, no dia 31, estaremos participando do evento "Foco Femina - em performances e Som" que terá como tema principal o universo feminino. O evento acontecerá no "Espaço 1", no Alto da Lapa, em Sampa, e está sendo coordenado pela poetisa Lunna Guedes. O "Família Jacaré" estará apresentando uma seleção de músicas voltadas às mulheres.
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Abração a todos,
JF
16 comentários:
Eu lembro do Ivon Curi. E da peruca dele, horrorosa!
Lembro também que em casa fizemos um "assassinato" similar ao do chuchu, mas num pé de melancia. Acho que o pé atrapalhava o gramado onde meus irmãos gostavam de jogar. Eu também sempre morei em casas térreas com quintal, até hoje, graças a Deus! Minha avó estava doente na época e tomava um monte de remédios tarja preta. Meu irmão mais velho aplicou uma injeção daqueles remédios no pé de melancia. Morreu rapidinho, rapidinho! Minha avó ainda demorou um pouco mais, coitada! E meu pai, o dono do pé(de melancia), nunca entendeu a coisa.
Abração
( se puder, tentarei ir na Lapa no dia 31) Dê maiores indicações do local, por favor, moro meio longe:)
Conheci uma pessoa que dizia que chuchu tinha muita vitamina A, B e C... água, bagaço e casca!
Acho que concordo, chuchu não tem gosto de nada... prefiro feijão!!!
Beijo!
Mas bah, JF.
Meu pai tinha um pé de aboboras que devia ser primo carnal deste teu pé de chuchu, tapava quase todo o pátio da nossa casa. Gostavaamos de cortar alguns talos e fazer canudos para brincar de bolinhas de sabão, nunca fomos descobertos, eu, meus irmãos e primos.
Estou muito longe, mas torço para que o evento seja um sucesso.
kakakakak ri muito com o pé de chuchu. Valeu amigo!
Preciso de um favor seu: perciso de uma foto de alguma orquídea 0rara. Qualquer uma serve, sem importar cor ou tamanho. Vc tem? Eu não sei quando é rara. Todas, para mim, são raras...BJkª. Elza
Olá!
Perdoe a ousadia, vi seu coments noblog da Maith e vim conhecer seu cantinho.
Só feijão!? Um viradinho de feijão vai bem!!
Tenhas uma linda noite.
beijokas, Beta de Santana
Claro que lembro do Ivon Curi, muito melhor como cantor do que como humorista. Inesquecível também sua peruca preta. rsrsrsrs
Bom, mas dei boas gargalhadas do pé de chuchu. Estava com saudades dos seus contos.
Abraços,
Vera Coelho
Fortaleza-Ce
Esse texto podia chamar A Vingança do Xuxu. Eu acho queu o anterior contou o qe vc fez para as suas mudas no outro plano.
J.F. fui passar uma das minhas férias na roça e a tia da minha amiga fazia chuchu todo dia. Os chuchuzeiros eram parentes!! Só que a danada fazia chuchu igual todo dia!! Eu não como mais chuchu!!
Sucesso nas apresentações!! Se morasse em São Paulo iria vê-los! Beijus
J.F
Ahh!!!! Lembro do Ivon Cury, da peruca, e dos olhinhos revirados dele.
Pois bem, meu pai tb tinha mão boooooaa para horta!!!! Na minha casa era couve. Ohhh céus!!!!! como comi couve.
Feliz evento.
abração
Olá amigo!
Que bom estar mais uma vez aqui me deliciando com suas histórias. Meu marido contava que quando era mocinho morou em uma pensão em S.Paulo com outros rapazes e a dona tinha um "bendito" xuxuzeiro no quintal e como sua mãe servia xuxu para os pensionistas todos os dias.
Enjoados dos quitutes eles começaram a fazer xixi na planta e em poucos dias ela "misteriosamente" secou.
Mudando de assunto: Hoje estou felicissima pois o São Paulo derrubou o Palmeiras, O Corintians cedeu o segundo lugar pra ele e os dois times aqui de Sorocaba ganharam.
Quando é que a familia Jacaré vem fazer-nos outra visita? Foi tão bom! Estou com saudade!
Um beijo para a Nina e uma boa noite para todos nós
Rapaz! Só você mesmo para me fazer lembrar do grande "chansonier" que foi o Ivon Curi. A interpretação dele para "João Bobo" era memorável!
Sobre o seu impagável causo do chuchu que dava para chuchu, pois é, essa leguminosa é assim mesmo. Sabe a expressão "dar mais que chuchu na cerca", vem dessa enorme produção. Que pena que você teve que assassinar o chuchuzeiro para acabar com a monotonia chuchuzal. Bom show para a Família Jacaré! Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
OI J.F.
Que bom saber que voce lembra bem do Ivon Curi, do J. Silvestre, Silveira Sampaio...
Bons tempos...
Mas, assassinato de chuchu, jamais esperaria uma desta.
Em minha casa, na Vila Mariana, tinhamos ameixeira e amoreira. E uma gataiada, que não tinha fim!
Mas era muito bom ir de bicicleta para o Instituto Biologico e para o Parque Ibirapuera.
Quanto a musica do feijão....esta minha mãe viva cantarolando em casa.
Obrigada
pela lembrança e visite meu blog pra saber das ultimas novidades.
beijos
Miriam
J.F.
que bom que veio me visitar.
O nome da minha nova companheira é Tarsila, Tati para os intimos.
Ela é uma graça, e todo dia fico feliz por ter lhe dado um lar. Acho que ela tambem.Trouxe muita alegria aqui pra casa.
É louvavel aqueles que cuidam dos animais, e se esta mocinha chegou tão perto de São Paulo, pra mim, isto é sinal que as coisas estão melhorando, não acha?
Confio no instinto dos animais. Só chegam perto quando podem. Ainda mais um felino deste porte.
Que ela seja feliz, onde quer que esteja, na serra do Japi, ou em algum mato que a acolha e preserve.
Beijos
Miriam
OI J.F.
Hoje vim te avisar que estou te enviando um selo Roxie;.
Vá te meu blog receber.
Bjs Miriam
Meu caro amigo JF, mas que sapeca, pobre do pé de xuxu! Mas a gente entende, quem já teve quintal sabe destas artimanhas! Hehehe, eu também fui danadinha!
Uma boa apresentação para a família Jacaré, um dia ainda quero ver vocês em sampa!
Beijos!
Oi, J.F.,eu quase senti o gosto do chuchu lendo vc. Como é bom termos esses momentos pra recordar, né? Boa vida, boas histórias, boas lembranças. Acho que a idade vai chegando e as lembranças aumentam, e com elas, a saudade de tempos especiais.
Adorei! Virei aqui com mais frequência.
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