sexta-feira, maio 17, 2013

DE PATO A PERU, QUÁ-QUÁ E GLU-GLU



Sempre ganhei muitas garrafas de bebidas. Até hoje, clientes, amigos, parentes, me presenteiam com garrafas de whisky, conhaque, saquê, vodka, vinhos os mais diversos. Gosto muito de bebericar uma boa bebida, embora não seja propriamente um alcoólatra, apesar de já ter pego um ou outro "fogo homérico", o primeiro com menos de dez anos (mas, isto é história para outra hora). No domingo, na hora do almoço, acompanhando a macarronada, sempre vai bem um copo de um bom vinho tinto e seco.  O único problema é que eu não gosto de beber se não tiver companhia. E a Nina, em matéria de bebidas, só acompanha se for Guaraná “Zero”.

Nada como uma boa dose de whisky, em final de tarde, sendo bebido aos golinhos, ao longo de um bom bate papo. O problema é que, em dias de “Lei Seca”, ninguém quer arriscar-se a enfrentar um bafômetro, mesmo que só com um golinho de bebida. Incrível! Meus amigos aderiram à Coca Cola. Nem ao menos uma cervejinha. Vão de Coca Cola. E “Light”, ainda por cima! Vai daí que, aqui em casa, entra muito mais bebida do que sai. E o estoque ficou grande. Para o vinho, tudo bem. Todos os dias, no almoço, meu pai toma vinho tinto. Apenas 3/4 de copo, mas o suficiente para consumir as garrafas que ganho e manter o equilíbrio do estoque. E ele consome sem nenhum medo do bafômetro, já que, com 97 anos de idade, nenhum guarda de trânsito irá pará-lo. Mesmo porque já não dirige mais.

Uma saída para as demais bebidas é ir dando de presente a amigos, em seus aniversários. Só que, assim como eu consigo me desfazer de algumas garrafas de bebidas dessa forma, estou desconfiado que alguns amigos fazem a mesma coisa. Ganham e dão de presente. É possível até que alguma garrafa, depois de ser presenteada várias vezes, tenha retornado à minha casa. Inclusive, estou pensando em inovar, estatisticamente, nesses presentes com bebidas. Na próxima vez em que presentear alguém dessa forma, vou colar um papel na parte traseira da garrafa, com os dizeres: “Ao presentear alguém com esta garrafa, anote a data e o nome do presenteado”. Assim, poderei ver todo o caminho que a garrafa seguiu, por quais mãos passou, e quanto tempo levou até retornar a mim sob a forma de um presente de amigo.

Antigamente, lá pelos anos cinqüenta do século passado, até que as pessoas davam bebidas de presente. Não para mim, lógico, mas para o meu pai. Eram aquelas garrafas de bases ovaladas e revestidas de palhinha, do italianíssimo Chianti Ruffino. Só fui entender que era um vinho muito bom muitos anos mais tarde. Mas, os presentes sob a forma de bebidas não eram tão comuns como hoje. Lembro que meu pai, contador, ganhava presentes de seus clientes agradecidos, em cada final de ano. Perus! Isso mesmo! Perus!!! Aquele bicho que, com complexo de pavão, abre o rabo em forma de leque e canta “glu-glu-glu-glu-glu”. Pelo menos não eram cacarejantes. Eram legítimos perus glugluglusantes. Todos vivos. E como glugluglusavam! Em 1952, apesar de pequeno lembro bem do ano, pois foi quando nos mudamos do Brás para a Aclimação, meu pai ganhou, de seus clientes, nada menos que oito perus. Todos cantores e vivinhos da silva! Todos soltos no quintal, pois ainda não havia dado tempo de meu pai fazer um galinheiro. Ou um peruzeiro, sei lá! Não sei como a vizinhança não expulsou do bairro aqueles recém chegados folgados, donos de um coral barulhento e formado só de perus. No Natal daquele ano, meu pai deu peru vivo e glugluglulejante para a família toda. Que cada um o ajudasse a resolver seu problema.

Mas, teve o pato. Pois é! Ainda morávamos no Brás quando, num final de ano, meu pai ganhou um pato. Vivo, lógico, que pato morto e limpo, no supermercado, só existe agora. O pato, enquanto aguardava o momento de ser devidamente defenestrado e deglutido, foi solto no quintal. Quem, parece, não gostou muito da história foram as galinhas. Pudera! Todas presas no galinheiro enquanto aquele bicho passeava pelo quintal (perdoem-me as más palavras, senhoras) rebolando sua bunda de um lado para o outro.

Pato nada? Diziam que sim. Como não tínhamos uma lagoa, no quintal, a Meméia (se minha irmã Maria Amélia descobre que eu revelei, aqui, o seu apelido de infância, é capaz de me esganar) e eu resolvemos colaborar com o pato e construir um lago inteirinho só para ele. Cavamos um enorme buraco, de uns 50 centímetros de diâmetro e, no máximo, dez centímetros de profundidade (não esqueçam que éramos pequenos e não tínhamos condições físicas de fazer um lago maior) e o enchemos de água. Só que a terra absorvia a água. E nós jogávamos mais água. Até que tudo aquilo virou uma enorme poça de lama. Mas, já estava muito bom. Lama ainda era melhor que nada, para nadar. Só que o pato não apreciou nosso trabalho e não quis entrar no lago. E tratava de fugir. E nós o pegávamos e o jogávamos na lama.

“Nada, pato!”, ordenávamos. 

E o pato, nada de nadar. E fugia novamente. Ora, se não queria nadar por bem, nadaria por mal. Meméia e eu nos munimos de vassouras para impedir que o pato fugisse do lago. Ele teria que nadar, nem que fosse na base da pancada. Foi nessa hora que minha mãe veio ao quintal ver o que fazíamos. Pois não é que ela ficou do lado do pato? Apoio total ao palmípede, confiscando-nos as vassouras e nos pondo para dentro de casa.

E foi assim que o pato, que não gostou da lagoa, não precisou nadar. E surgiu o provérbio: “Pato, em lagoa estranha, estranha!”
                    -                    -                    -                    -
Ontem, 16 de maio, no final da tarde, Nina comentou:

"Há 44 anos, neste horário, eu estava esperando por você, na porta da igreja. Você não fica envergonhado, não? Ainda bem que eu já estava acostumada com seus atrasos, né?" 

Pois é! Completamos 44 anos de casados e até hoje rimos do fato de eu ter chegado à igreja meia hora depois dela. O importante é que continuamos nos amando como se sempre fosse o primeiro dia.
                    -                    -                    -                      - 
Ah, sim! Na foto, Meméia e Zezinho na charrete puxada a bode, em São Lourenço/MG, em 1947.

Abração e até à próxima.
JF

23 comentários:

Nina Maria disse...

Você já imaginou se você tivesse desistido, ao invés de ser somente um dos seus famosos atrasos?
Minha vida não teria nenhum significado sem você!
Nestes 44 anos, nossa família se formou.Filhos,genro,nora e netas,todos tão amados e você continua o grande amor da minha vida.
Beijos

Os Incansáveis disse...

Parabéns, J.F. e Nina! Eu ainda chego lá (são 21 anos de vida em comum com o meu cabra arretado de bom!).
Denise

Luciana L V Farias disse...

Paiê!!!

Primeiro: onde vocês acharam essas fotos????? Já é a segunda que eu vi aqui e que não conhecia. Que coisa mais linda!!!

Segundo: taí uma crônica que em meus quase 43 anos de vida nunca havia ouvido (no caso, agora, lido). E fico imaginando você e a Tia Memé tentando fazer o pato nadar, hahahaha...

Já dei parabéns procês no dia 16, mas dou de novo. Vocês são meu casal lindo e amado.

Beijocas,

Lu.

J.F. disse...

Oi, Nina Maria.
Você é suspeita para comentar, já que, modéstia à parte, você "tirou a sorte grande". KKKKKKKKKKKKKKK
Brincadeirinha! Brincadeirinha! Eu também!!!
Kissessssssssss

J.F. disse...

Oi, Denise. Como tudo que é bom, passa tão rápido. Parece que o casamento foi ontem. Ainda bem que temos outros 44 anos pela frente para estarmos juntos.
Abração.

J.F. disse...

Oi, filha. Você por aqui? Que surpresa!
Pois é! Levantei várias dessas fotos e já estou com várias histórias até redigidas. Vou postar aos poucos.
Obrigado pelos parabéns no dia 16. Só que você esqueceu de me dar os parabéns no domingo, Dia das Mães. Já esqueceu que sou conhecido como "o pai que é uma mãe"?
Beijão.

csimizo disse...

Adorei o post e vim a partir do link que a Lu postou no Facebook, já vou salvar nos favoritos, pois como comentei com um amigo: nesses dias, é raro encontrar um texto gostoso de ler, com ritmo e que prende a atenção.

Claudinha ੴ disse...

Que lindos vocês pititinhos!
Bem, na nossa casa o pato teve um final infeliz, morreu afogado pois era pequenino e não conseguiu sair de uma enorme bacia de água, rsrsrs.
Esta história de bebidas é engraçada mesmo, aqui levamos as garrafas presenteadas nos almoços de domingo na sogra e a cunhadagem agregada vai detonando. Na casa de meus pais não posso levar, lá ninguém bebe...
Meus pais fizeram bodas de ouro no dia 18. Feliz aniversário de casamento pra você e Nina! Que Deus os abençoe sempre!
Beijos a todos!

maray disse...

Em primeiro lugar, parabéns pela data! Daqui há dois anos alcanço vcs...
Essa história de pato me lembrou o primeiro que vi, de criança. Era no quintal de uma vizinha, lá na Lapa. E agora vou te fazer uma consultoria "penal" ( desculpe, não resisti): por que quando eu corria atrás do pato ele cagava? É sempre assim? Eu me divertia fazendo isso, já o pato ficava lá, fazendo o que anos depois a gente diz : "cagando e andando"...Mas eu queria mesmo saber se todos são assim!

Abração pra vc e pra Nina!

J.F. disse...

Oi, Cíntia Simizo.
Não me considero um escritor, mas fiquei feliz com seu comentário. Muito obrigado e volte sempre.
Abração.

J.F. disse...

Lindos mesmo, né, Claudinha? Pena que a gente cresce e estraga tudo. Mas... Você matou o pato??? Afogado??? Você confundiu com um peixinho vermelho, foi?
Abração.

J.F. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J.F. disse...

Maray,
Posso explicar. Trata-se de um reflexo condicionado próprio do pato. Enquanto ele anda, o nervo oxidapeliódulo, que liga a membrana natatória do pé esquerdo ao seu glúteo, é esticada e faz com que a válvula retrospectuverante seja aberta e liberte uma certa quantidade de elementos anteriormente digeridos pelo pato. Aí, quando o passo do pato é no pé direito, que é destituído desse nervo tão especializado, a válvula se fecha. Quando ele pisa com o pé esquerdo, a válvula volta a abrir-se, como resultado do esticamento do nervo, e nova porção desses elementos pré digeridos são liberados. É por isso que titica de pato é em bolinhas pequenas. Espero ter elucidado a questão para você, embora não tenha muita certeza de que seja a resposta correta. Na verdade, acho que não é nada disso. Sei lá se existem tal nervo e tal válvula. Você faz cada pergunta difícil!

Mimirabolante disse...

oi,tudo ok?
já havia lido esta postagem e comentado na outra.....mas,o caso é o seguinte:adorei a sua visita lá em casa.Um comentário sincero e incentivador.É isso aí: a união faz a força e um dia teremos um mundo melhor!!!obrigada e mil beijocas bem mimirabolantes....

Magui disse...

Muito boa, ri demais... Excelente senso de humor.Pena que vc gosta , tb, de dar uma sumida daqui. Parabéns pelo niver de casamento.Hoje em dia, vc corria o risco da noiva ir embora e , depois, meter-lhe uma ação de indenização.

Magui disse...

Uai... Nossos templats estão IGUAIS esta semana?!

J.F. disse...

Monique,
Obrigado pela visita. Quanto ao seu blogue, o assunto é muito interessante. Na minha próxima postagem, vou fazer uma referência.
Abração.

J.F. disse...

Oi, Magui. Eu? Sumido? Bommmm... Um pouquinho. Quanto aos templats, venho utilizando o atual há bastante tempo. Coincidências acontecem.
Abração.

Luma Rosa disse...

Nina e J.F., parabéns pelos 44 anos de feliz união!! Seus filhos devem sentir muito orgulho do amor de vocês, do respeito e da dedicação mútua. Achei o comentário da Nina muito lindo!
Ah, então seu apelido é Zézinho? Imagino como deviam ser arteiros! Coitado do pato, pagou o pato!! Imagina se atualmente recebéssemos perus vivos de presente! Não sei matar galinha. Talvez virasse galinha de estimação e colocasse coleirinha para passear, assim como estão fazendo com os porcos.
Em geral, quando recebo em casa para almoço e jantar, alguém sempre traz uma bebida como agrado. O que faço é abrir para compartilhar. Ou se recebo uma bebida de presente fora desses termos, sempre retorno a ligação, chamando a pessoa para beber comigo. Uma forma de não matar a bebida sozinha. De todas as bebidas prefiro vinho tinto, viu? A Nina vai ter que beber um gole, pelo menos para brindar!! Tim... tim...
Ainda bem que a Nina te conhece desde sempre, imagina se fosse outra noiva? Teria tido um colapso!!
Boa semana!!
Beijus,

Lúcia Soares disse...

Olá, JF. Obrigada pela visita ao meu blog.
Sim, os livros são da série "OS reis malditos", muito bons, exceto o último, que tive que ler bem pausadamente (pulei muita coisa! rs) pois fugiu do estilo dos outros e foi muito maçante e leitura. Anotei o outro que vc me indicou.
Muito boa a sua história, bem contada, com a dose certa de humor.
Prazer em conhecê-lo.
Parabéns pelos 44 anos de casamento. Eu farei 39 anos de casada este ano. É tempo demais, mas só pq valeu muito!
Abraços!

Rosamaria disse...

Oi, J.F.!
Em primeiro lugar meus parabéns para o casal pelos 44 anos de união com tanto amor e companheirismo! É uma dádiva! São poucos os que, como nós, têm uma vida juntos por tanto tempo e ainda conservam o amor do começo da vida.
No fim deste ano vamos fazer 49.
Tu tiveste sorte da Nina ter te esperado! Imagina se ela desiste! Garanto que ela continua te esperando toda a vez que tu te atrasas.

Que pena que a Nina não te acompanha num whiskinho! Nós tomamos uma dose (ou mais) todas as sextas ou sábados, dependendo da programação. Às vezes um cunhado que mora ao lado nos acompanha e rola aquele papo ao som de uma boa música e alguns petiscos. isto quando a casa não está cheia, com filhos e netos.

Pobre do pato! Fiquei com dó dele!

Bjim pra ti e pra Nina.

Ah! Fiquei feliz que tu gostas do meu blog.

.

J.F. disse...

Oi, Lúcia.
Realmente, o sétimo livro é escrito em estilo bem diferente dos anteriores. Na verdade, ele nem faz parte da série, que é composta pelos seis livros iniciais. Apenas situa a história na mesma época dos anteriores, apesar de deixar um pequeno hiato de tempo entre o final da história do 6º livro e a história desse livro. Mas, é bastante interessante, também.
Muito obrigado por sua visita.
Abração.

J.F. disse...

Oi, Rosa.
Gosto muito de seu blogue. Pelas suas fotos, pelas descrições de suas viagens, pelo amor à família que você demonstra.
Abração.