No começo de minha carreira de advogado, todo caso que aparecia eu “pegava”. E, no meio do que aparecia, começaram a surgir os casos de separação matrimonial.
Fiquei um bom tempo cuidando disso, mas precisei parar pois não tive sucesso financeiro.
Alguns colegas têm em sua mente uma poderosa máquina de calcular. Naquela época, a coisa funcionava mais ou menos assim, para esses colegas matemáticos.
“Doutor, quero me separar!”, O advogado abria a última gaveta de sua escrivaninha e pegava o bloco de “Procuração”.
“Assina aqui.”
“Mas, o senhor não quer ouvir a história?”
“Depois! Assina aqui!”
Assinada a procuração, o “doutor” começava com as perguntas:
“Existem bens a serem divididos? Qual o valor deles?”
“Mas, o senhor não quer ouvir a história?”
“Depois! Por enquanto, vamos cuidar dos bens a partilhar.”
À medida em que esses bens iam sendo relatados, o advogado, mentalmente, ia calculando a proporção do que seriam seus honorários. Logicamente, nem todos os advogados agiam assim. Mas que existiam alguns, existiam.
Em função de um caso que vou narrar a seguir, minha primeira preocupação, quando era procurado para cuidar de uma separação, era ver se a separação era irremediável. Se eu vislumbrasse, na história, alguma possibilidade remota de reconciliação, era por esse caminho que eu ia. E, graças a isso, passados tantos anos, existem alguns casais que permanecem unidos até hoje.
Mas, essa postura me trazia um problema. Eu cobrava para separar casais. Quando não havia separação, eu não cobrava nada. Uma ocasião, uma ex-futura descasada que conseguiu reconciliar-se com o marido (que eu saiba, eles continuam juntos até hoje), sabendo que eu era (e sou ainda) orquidófilo, agradecida e emocionada, me deu de presente um enorme vaso de orquídeas, dessas que, entre nós – orquidófilos de olhos críticos - costumamos chamar de “repolhão”. Um gesto muito bonito e tocante, mas que não me ajudava no meu problema principal: prover o sustento de minha família. E foi assim que eu acabei abandonando o Direito de Família e enveredando para os campos do Direito Comercial (sociedades) e do Direito Tributário, muito mais rentáveis.
Mas, vamos ao caso que se passou com um colega que dividia o escritório comigo. O casal, digamos assim, eram o João e a Maria, amigos comuns nossos. O José que aparece na história, evidentemente, sou eu mesmo, que continuo casado com a Nina há 38 anos.
Uma segunda-feira, ele chegou ao escritório logo cedo:
“José. Ontem, João e Maria estiveram em casa e querem separar-se. Querem, não! O João até chora. Mas, a Maria está irredutível e com tanta raiva que faz questão cerrada que a audiência da separação seja no dia 13 de junho (Dia de Santo Antonio). Diz ela que quer vingar-se do santo.”
Realmente, era pouco tempo para preparar tudo. Mas, bom advogado, ele conseguiu. Assim, no dia 13 de junho, para fazer desfeita a Santo Antonio, o santo casamenteiro, foi homologada a separação.
E Santo Antonio? Concordou? Não!Uma segunda feira, início de agosto, a novidade.
“José. Ontem, João e Maria estiveram em casa. Querem que eu desfaça a separação o mais rápido possível, porque eles são marido e mulher, novamente.”
Dava para entender. Eles tinham apenas o apartamento. Com a separação, João não tinha para onde ir e a Maria, compreensiva que era, concordou que ele dormisse no sofá da sala, enquanto não conseguisse outro local. Daí, sabem como é, assistiam à novela juntos... Comentavam... "Você quer que eu prepare pipocas para nós?"... Era inverno e estava frio... João, gentilmente, se ofereceu para esquentar os pés da Maria... E daí para... Vocês sabem... Enfim, sejamos claros, já estavam dormindo na mesma cama e com direito a tudo o que marido e mulher fazem sob os lençóis. Ou mesmo o que fazem quando não existem lençóis, que eles não são necessários para isso. Vocês entenderam... E muito bem entendido, seus maliciosos!
Lá, comigo mesmo, pensei: “foi a vingança de Santo Antonio”. Vingança no bom sentido, lógico, pois santo não quer o mal às pessoas. Ou vocês acham que o santo casamenteiro iria concordar com uma separação de casal?
Foi esse fato que me levou, a partir daí, a sempre verificar se era possível uma reconciliação. Vocês não imaginam quantas separações poderiam ter sido evitadas se os advogados pensassem, inicialmente, nessa possibilidade, ao invés de se preocuparem com cálculos mentais do valor dos honorários a cobrar.
Eu sei! Cuidar de manter marido e mulher unidos não sustenta a própria família! Ora, passe a dar consultoria de impostos para empresas.
José Francisco
Ou Zeca, em alguns casos, ou JF, em outros
3 comentários:
O que posso dizer é que me sinto honrada de ter como amigos o Zeca a Ninca, A Lulu legal linda e maravilhosa, o Adriano (que num conheci ainda né) Oo Wagner, a Ju e a Vanessa
E quero ver um livro de causos publicados
abraços
Rita
Olá, Seu José francisco!
Eu já o conhecia dos relatos hilariantes da Luciana. Puxa! O senhor escreve bem! Li o seu post de uma golada só. Muito bom. Agradeço pela visita ao meu gusrda-louça de velhas emoções. Fique à vontade e volte quando quiser.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
:-)))
Pois é, paiê... infelizmente cada vez mais o pessoal se separa antes de tentar resolver os problemas, e perdem a melhor parte do casamento, que é justamente depois que passamos por eles e tudo se torna bem mais bacana, rsrsrsrs...
Beijocas!!!!!
Postar um comentário