terça-feira, setembro 11, 2007

A porta da discórdia

A Jack aposentou-se e passou a narrar “causos” muito bons, de seus tempos de bancária. São crônicas escritas com bastante leveza e humor em seu excelente blog “Jack não tá Fazendo Nada” (link na coluna ao lado – vale a pena ler). A leitura me fez lembrar “causos” de minha vida profissional, como contador, advogado e professor.

Este é um causo de advocacia e só vou contar porque não chegou a correr processo. Evidentemente, conto o milagre mas não os santos. Os nomes não são verdadeiros.

Giovanni procurou-me. Queria separar-se de Anunciata. Não a suportava mais. Mal se falavam e ela fazia de tudo para irritá-lo.

“A separação será consensual?” perguntei.

“Sim. Ela passa procuração e o senhor será advogado dos dois.”

Pedi que ele passasse um recado para Anunciata me procurar. E ela veio.

“Doutor, eu concordo com a separação. Mas, só assino se ele devolver a porta do quarto!”

“Devolver a porta do quarto?”

“É! A porta do quarto que ele tirou e jogou fora.”

“Mas que história é essa? Você trancava a porta para ele não dormir no quarto?”

“Não! Ele já dormia na sala há muito tempo. Não precisava tirar a porta do quarto.”

Mandei vir o Giovanni.

“Giovanni, a Anunciata não concorda com a separação enquanto você não devolver a porta do quarto.”

“Danou-se! Dei a porta a um desses catadores de bagulhos que passam pela rua.”

E, assim, como Anunciata queria “a” porta, não servia nenhuma outra, não pode ser formalizada a separação consensual. Giovanni desapareceu no mundo. Parece-me que se mudou para alguma cidadezinha de Minas Gerais. Nunca mais tive notícias dele.

Passaram-se alguns anos. Um dia, Anunciata me procurou. Queria separar-se de Giovanni e eu deveria cuidar de tudo.

“E a porta?”

“Não quero mais saber daquela porta!”

Acontece que Anunciata tinha arrumado um namorado e queria casar-se, novamente, independentemente de seu quarto ter ou não ter porta.

Mandei procurar outro advogado. Ora!

Mas, o que nunca consegui entender é o que leva um marido, que não suporta mais a mulher, que se irrita com tudo o que ela faz ou fala, que dorme na sala, a arrancar e sumir com a porta do quarto dela.

JF

3 comentários:

Unknown disse...

JF

Muito legal esta da porta. Apesar do strees a advocacia nos traz momentos hilariantes e impagáveis. Foi muito bom saber do seu blog. Fique certo que irei acessá-lo direto.

Abraços

Candido Duarte
Santa Fé do Sul - SP

Luma Rosa disse...

Uai!! Ele queria diminuir os obstáculos! Nada mal! Mas ela preferia a porta à ele! :) Beijus

Anônimo disse...

Esse JF é mesmo abilolado e muito querido. Já inclui o seu blog nos meus favoritos e nem sou louca de fazer qualquer comentário na NESO. Vamos aguardar o aniversário da Nina.

Abraços

Aparecida Martinez Mangerona
Montes Claros - MG